Prezada Dad Squarisi,
Tudo bem?
Somos Alexandra Martins, estudante de jornalismo do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB) e ativista do movimento LGBTTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgeneros) e Clarissa Carvalho, antropóloga da área de gênero e sexualidade, funcionária pública e também militante LGBTT
Como uma boa foca – expressão usada para identificar estudantes de jornalismo -sempre procuro ler suas colunas de português. Mas, como boas militantes, não podemos deixar de comentar sobre a coluna publicada ontem (30/04), no Correio Braziliense sobre o caso das Travestis e do Ronaldo.
Nós do movimento orientamos aos jornalistas que respeitem a forma como a travesti quer ser identificada. Fazemos isso porque acreditamos que ela é a pessoa mais legítima para reivindicar a forma como gostaria de ser reconhecida social e legalmente. O mesmo acontece para as pessoas que vivenciam a experiência transexual.
No século 16 a palavra travesti era utilizada para definir a prática momentânea de pessoas que se vestem do outro sexo por algum motivo. Tanto Diadorim, como Joana D’arc se vestiam de homem porque almejavam um objetivo, além de vestir de homem. Nesses casos, elas precisavam provisoriamente assumir uma identidade masculina, mas não podem ser consideradas ‘travestis’ quando comparado com a situação atual.
As travestis brasileiras, como as que cruzaram com o jogador Ronaldo, não se vestem de mulher. E também não é provisório. Elas vivenciam uma feminilidade incoerente com seu corpo, porém coerente com sua mente/alma todos os dias. Elas alteram seu corpo para viverem a feminilidade que sentem essencial à sua identidade.
Passar horas de tortura para colocar litros de silicone nos peitos e coxas não tem o mesmo peso e significado que “vestir-se de mulher” ou colocar uma saia. É correr risco de vida para ser quem realmente elas sentem que são.
E negar sua feminilidade, mais do que óbvia e até exagerada, chamando-as pelo artigo masculino, é uma violência psicológica contra elas. É resgatar aquilo que elas deixaram para trás porque não gostavam, é dizer o que elas até sabem, mas não se encaixa em suas vidas. Se um dia o termo ‘travesti’ significava apenas vestir-se do sexo oposto, hoje significa uma identidade marginalizada que busca visibilidade e Direitos Humanos
Identidade de Gênero X Orientação Sexual
Ao contrário do que possa parecer, a maioria das travestis não querem ser mulheres e também sabem que não são homens. Elas são algo até melhor: elas são travestis. Nem mulher, nem homem, mas sempre femininas. Portanto, por pertinência, devemos chamá-las de “as travestis”.
A travestilidade reivindica, enquanto corpo político, a identidade de gênero e não a orientação sexual. A primeira enuncia o sentimento de masculinidade ou feminilidade que acompanha a pessoa ao longo da vida. Já a orientação sexual dá conta da atração afetiva e/ou sexual que uma pessoa sente pela outra. Já a expressão ‘opção sexual’ não é mais utilizada desde os anos 90, por reivindicações dos movimentos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, e transexuais. Acreditamos que não se opta pela identidade ou pelo desejo. Você simplesmente se sente de uma forma, é orientada (o) por ela. O que a gente opta, sim, é por aceitar que nossa orientação possa ser imoral para os olhos de alguns e buscar escondê-la. Assim, como se opta ter orgulho da própria identidade de gênero e da sua orientação sexual.
Esperamos sensibiliza-la sobre este tema. Caso tenha curiosidade de ler mais sobre este assunto, podemos sugerir algumas leituras.
Atenciosamente
Alexandra Martins
Clarissa Carvalho
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