Há repetições e repetições. Algumas decorrem da pobreza vocabular ou da falta de imaginação pra variar a estrutura da frase. Genéricos dos soníferos, dão um soooooooooooooooono. Outras são intencionais. Escritas com requintes de champanhe e caviar, realçam ideias. É o caso da anáfora. Poetas e redatores recorrem a ela sem cerimônia. “Tudo se encadeia, tudo se prolonga, tudo se continua no mundo”, escreveu Olavo Bilac. “Vieram os horrores dantescos da ilha das Cobras. Vieram cenas trágicas do Satélite. Vieram os escândalos monstruosos da corrupção. Vieram as afrontas insolentes à soberania da justiça. Vieram as dilapidações orgíacas do dinheiro da nação”, discursou Rui Barbosa. Políticos precisam sobressair. Não é fácil. Pra chegar lá, seguem o conselho de Leonel Brizola. “Pra vencer o diabo”, dizia o então governador fluminense, “recorro a todos os demônios.” Um deles: a anáfora.
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