“Reticências são sinal de emoção”, dizem alguns. “Reticências são quebra-galho de quem não tem mais nada a dizer”, afirmam outros. “Reticências são coisa de preguiçoso”, desqualificam muitos. “Reticências”, escreveu Mário Quintana, “são os três primeiros passos do pensamento que continua por conta própria o seu caminho.”
E daí? O mestre Antonio Sales dizia que há dois tipos de textos — o informativo e o literário. Ambos começam com letra maiúscula e terminam por ponto. A diferença é o recheio. O primeiro exibe fatos e argumentos. O segundo, talento. Por isso o artista tem licença poética. Camões, Machados, Pessoas podem tudo. Podem mudar o significado de palavras, criar palavras, pisar a gramática, desrespeitar a sintaxe e por aí vai. “Cacilda Becker morreram”, escreveu Drummond na coluna que assinava no Jornal do Brasil.
Limites
As demais criaturas têm limites. “Liberdade completa ninguém desfruta”, alertou Graciliano Ramos. “Começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com o Dops.” As reticências obedecem a regras. Quem escreve precisa conhecê-las. Os três pontinhos servem, sobretudo, pra indicar omissões ou truncamentos. Por que omitir ou truncar enunciados? Por duas razões:
1. Razão prática: o autor suprime parte do texto que não lhe interessa no momento. Rocha Lima, ao publicar nova edição da Gramática normativa da língua portuguesa, transcreveu comentários de escritores brasileiros sobre a obra. Um, de Rachel de Queioz, estava muito longo. Ele lhe passou a tesoura no que não interessava:
“…mas, as voltas que o mundo dá, quem acreditava que as linhas paralelas não se encontram, desta vez se desengane; elas se encontram, sim. Tanto é que se encontram agora essas velhas paralelas de outrora: os escritores brasileiros e os seus gramáticos.”
2. Razão expressiva: o escritor provoca o interlocutor, deixando por conta dele a continuação do enunciado. Vale o exemplo de Machado de Assis:
— Você quer, Bentinho?
— Mamãe querendo…
— Quero, meu filho.
Às vezes, as reticências indicam um intervalo de silêncio da pessoa que fala — por hesitação, descontrole emocional ou necessidade de fazer uma reflexão:
— Posso sair mais cedo, professora?
— Pode se…
— Se o quê?
— Se você… bom, se você… É isso. Conseguir autorização do seu pai.
Reticências? Use. Não abuse.
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