Escrever é mandar recado. A receita de uma sobremesa é um recado. O convite para a festa de aniversário é um recado. O horóscopo publicado no jornal é um recado. A prova que você faz na escola é um recado.
A gente manda e recebe recados todos os dias. A empregada anota a mensagem para a patroa ausente. O médico prescreve o remédio para o enfermo. Você escreve uma carta para seu amado. Seu coleguinha manda um bilhete para você. É tudo recado. E a redação do vestibular? É recado. Na hora de dar o recado, lembre-se: as idéias não caem do céu, nem saltam do inferno. Nascem de um plano, que traça o caminho a percorrer. Como fazê-lo? É nosso assunto de hoje. Siga os passos :
1 – Leia o tema da redação pelo menos três vezes. Entenda-o. Só depois passe adiante.
2 – Planeje o texto
2.1. restrinja o tema: você tem de ser humilde. Precisa dar-se conta de que não vai escrever nenhum verbete de enciclopédia, mas um texto de 30 ou 40 linhas. Tem, por isso, de escolher um tópico — aspecto sobre o qual discorrer.
2.2. escolha o leitor: quem escreve escreve para alguém. Para quem? A resposta define o texto a ser escrito. Imagine uma receita de sobremesa e três receptores diferentes. Um: a cozinheira da sua casa. Outro: seu colega de aula. O último: leitores da revista Playboy. Conclusão: o assunto é o mesmo. Mas os textos serão diferentes. Quem ditou a diferença? O leitor.
2.3. defina o objetivo: o indeciso perde muito tempo. E tempo é o bem mais escasso no vestibular. Definir a rota de primeira ajuda a ganhar pontos. A rota é o objetivo. Como chegar a ele? Você tem o tema delimitado. Sabe quem vai ler o texto. Pergunte-se: com este tópico, para este leitor, o que quero? Surgirão várias respostas. A que você escolher será o objetivo.
2.4. selecione as idéias capazes de sustentar o objetivo: argumentos, exemplos, comparações, confrontos e tudo que ajudar na defesa do ponto de vista escolhido.
Exemplo de plano Tema: modelos de avaliação da educação
Leitor: examinador de concurso
Objetivo: demonstrar a necessidade de rever os modelos de avaliação da educação
Idéias do desenvolvimento: 1. Os resultados dos estudos sobre o ensino superior são injustos. 2. O mesmo erro ocorre na avaliação do ensino médio. 3. Está na hora de pensarmos a educação à luz da construção do conhecimento.
Texto planejado
Educação brasileira em prova
A educação no Brasil precisa de mudanças, mas poucos dados se têm sobre por onde começá-las. Diante dos modelos de pesquisa que o governo adota para avaliar universidades e escolas de ensino básico, não é possível discriminar os maiores problemas. As pesquisas são baseadas em exames tradicionais, com critérios discutíveis, feitos por parcelas de estudantes não significativas.
Os resultados dos estudos sobre o ensino superior apontam para grandes injustiças. Quantos e quais alunos se dispõem a, numa tarde de domingo, fazer a prova que dirá o nível da faculdade que estão cursando? Se apenas comparecerem os estudantes capazes de tirar as melhores notas, a faculdade dá sorte, estará entre as importantes. Mas se alunos que não aproveitam os cursos, são preguiçosos ou estão desestimulados por problemas pessoais decidirem fazer a prova, a instituição leva a pior.
O mesmo erro ocorre na avaliação do ensino médio. Há escolas que formam pelotões de gênios para o Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem. Oferecem transporte em ônibus fretado, dão brindes, pontos extras na média, descontos nas mensalidades a quem vai bem. Há, ainda, denúncias de ofertas de bolsas de estudo, às vésperas do exame, para estudantes excelentes de outras escolas em troca da transferência.
Essas provas tornam-se apenas a repetição da compra de voto, da propaganda enganosa. E fazem a festa da mídia quando os resultados são anunciados e nascem os rankings de melhores e piores na educação nacional. Especialistas garantem que não são essas as pesquisas de que a educação brasileira carece para sair do vermelho.
É preciso criar mecanismos que avaliem a relação entre professor e aluno, o potencial dos docentes, as diretrizes das instituições e sua infra-estrutura. Também é urgente analisar livros, condições de trabalho, formação de professores. Está na hora de pensarmos a educação à luz da construção do conhecimento e não de números vazios que só repetem enganos já cometidos na nossa história.
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