Foi um pega pra capar. Editores e repórteres se dividiram. De um lado, ficaram os defensores da inicial minúscula. De outro, da maiúscula. O pomo da discórdia foi a palavra brasis que apareceu neste título: “Todos os brasis na Sapucaí”. A redação do jornal virou bate-boca inflamado.
Pra provar que tinha razão, o time das pequeninas se apoiou no verbete “brasis”, que aparece nos dicionários e no Vocabulário ortográfico da língua portuguesa. A equipe das grandonas se baseou em regra que rege os nomes próprios. No plural, eles mantêm a majestade. Escrevem-se, por isso, com a inicial nobre. Assim: Marias, Josés, Maias, Gusmões, Franças, Brasis.
O verbete
E daí? O pai de todos nós errou? Não. Ele sabe que na vida três coisas não podem faltar. Uma: luz na hora da cirurgia. Outra: o amante no encontro marcado. O último, igualmente importante: a correção do dicionário. Prestemos, pois, atenção ao verbete. Ele ensina lições:
1. O plural de palavras obedece a regras prestabelecidas. Não tem direito a verbete. Se algum vocábulo quebra a cabeça da gente, a resposta aparece no fim das acepções do singular. É o caso de carro-bomba. Entre colchetes, na rabeira da explicação, encontra-se o socorro: “Pl.: carros-bombas e carros-bomba“.
2. Ora, se ganhou entrada na obra, brasis tem significados que precisam ser conhecidos. Certo? Certo. Vamos, pois, a eles. Brasis, sempre no plural, quer dizer “as terras do Brasil”. Eis o exemplo: Viajamos muitos meses por esses brasis.
Em duas acepções, pode-se usar o singular. Mas o plural é mais comum. Uma: as terras indígenas do Brasil. A outra: o natural ou habitante do Brasil.
Moral da história: brasis e Brasis soam do mesmo jeitinho. Mas a letra inicial denuncia a diferença. Ao falar no plural do nome deste alegre país tropical, a maiúscula ganha banda de música e tapete vermelho. Jacques Lambert entendeu a manha. Escreveu o livro Os dois Brasis.
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