rascunhos

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Recado “A frase tem de ser construída de tal forma que não só se entenda bem, mas que não se possa entender de outra forma.” Íñigo Dominguez Entre tapas e beijos Somos sortudos. Eis o recado do programa eleitoral. Independentemente do eleito, o paraíso será aqui. Dilma, Marina, Aécio & cia. louquinha pelo Planalto são gente de casa. Parece que nos encontram todos os dias. Falam conosco a toda hora. Conhecem pai, mãe, irmãos e filhos dos 200 milhões de brasileiros. Aquela história do José Maria Alkcmin podia ter sido protagonizada por qualquer um deles. Lembra-se? O político mineiro encontra um homem. Cumprimenta-o com entusiasmo. Depois ambos batem este papo: — Como vai seu pai? — Morreu há dois anos. — Morreu pra você, filho ingrato. No meu coração, ele continua vivo. Qual o truque de tanta intimidade? O sorriso ajuda. Os abraços também. Criancinhas no colo? Nem se fala. Depoimento do povo, então… A língua também dá senhora ajuda. Todo mundo é meu amigo, minha gente, meus companheiros. Quem resiste? Senões? Só um. É a falta de intimidade com o português. Entre tapas e beijos, pronúncias, grafias, pronomes, pleonasmos, regências & cia. maltratada quebram o encanto. Exemplos pululam ao longo do programa.   Pronúncia Candidatos prometem remédios e passagens gratuitos. Mas, em vez de pronunciar o ditongo ui como em fortuito e circuito, acentuam o i. Dizem gratuíto. Bobeiam. Quebram o ditongo perdem eleitores. * Radicais juram de pés juntos: “Não daremos subsídios a ricos”. Convencem? Não. Eles dizem “subzídio”. Esquecem-se de pormenor pra lá de importante. Subsídio e subsolo jogam no mesmo time. O s soa ss.   Pleonasmos “Nenhum país do mundo oferece um sistema de saúde universal como o nosso”, alardeia Dilma no rádio e na tevê. Ouvintes e telespectadores ficam com o pé atrás. “Existem países fora do mundo?”, perguntam os curiosos. Ora, se todos os países são do mundo, basta o substantivo pra dar o recado: Nenhum país oferece um sistema de saúde universal como o nosso. Olho vivo! Todos os países são do mundo. Mas nem todos são da América, da Europa, da Ásia e por aí vai. No caso, a especificação é pra lá de bem-vinda: Nem todos os países da América têm um sistema de saúde como o nosso. Nenhum país da Europa ou da Ásia tem um sistema universal como o nosso.   Regência O verbo mais maltratado? É chegar. Cem em cada cem candidatos chegam “em” algum lugar. É pena. Com essa preposição, não chegam a lugar algum. Pra chegar lá, têm de fazer as pazes com o a: chegar ao Planalto, chegar a Brasília, chegar ao comício, chegar à casa do eleitor, chegar ao céu.   Pronome eu Não importa o partido. Nem o sexo. Nem a idade. Os candidatos têm uma característica comum. São ególatras. Adoram-se acima de tudo. Sem modéstia, rivalizam com Deus. Por isso, o eu é a grande vedete dos palanques eletrônicos. Ao usá-lo, porém, os pidões caem em cilada que arrepia cabelos e afugenta amigos, inimigos e nem uma coisa nem outra. “Entre eu e o eleitor”, dizem uns. “Entre eu e minha equipe”, outros. Valha-nos, Deus! Na egolatria, homens e mulheres não deixam dúvida — foram maus alunos ou mataram aula. Não aprenderam que o pronome eu tem alergia à preposição. Antecedido por ela, bate asas e dá a vez ao irmãozinho mim: Gosta de mim. Trabalha para mim e para você. Nada existe entre mim e o eleitor. Só existe entre mim e minha equipe.   Pronome este Dilma, Marina, Aécio & cia. pidona se referem ao Brasil como “esse país” em vez de “este país”. Ato falho? Talvez. Eles estão em Pindorama. Mas têm olhos em OZ.   Leitor pergunta Gostaria de saber se pontapé inicial é pleonasmo. Carlos Fabiano, lugar incerto Não. É lugar-comum. No futebol, a expressão á pra lá de bem-vinda. O jogador dá o pontapé inicial e inicia-se a partida. Acontece que jornalistas, escritores, advogados, professores, estudantes & cia. da escrita adoraram a duplinha. E passaram a usá-la a torto e a direito. Resultado: com a repetição, a novidade perdeu o frescor. Virou chavão. Xô!
Dad Squarisi

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