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Muito prazer Sabia? Aposentar, aposentadoria, aposentação têm família pra lá de descansada. O pai do respeitável clã é o latim pausare. Dele derivam pousar, pouso, aposento, aposentadoria, aposentador & cia. Assim, na origem, o aposentado era a criatura que se recolhia aos aposentos, aos quartos de casa. Daí a expressão vestir o pijama. O tempo mudou o enredo. Antes, aposentar-se era conquistar o merecido descanso. Hoje aposentar rima com recomeçar. Salário baixo pede complementação. Onde buscá-lo? Casar de novo é difícil. Receber herança parece delírio. Ganhar na loteria? Nem pensar. A Mega prima pelo mau humor. O jeito? Tirar o pijama, calçar as chuteiras e partir pra luta. Deus ajuda quem se ajuda. Quem faz o quê? Valha-nos, Deus! É um tal de “aposento no fim do ano”, “aposentou há dois meses”, “vamos aposentar juntos” etc. e tal. Cadê o pronome? Aposentar joga no time dos transitivos diretos que viram pronominais. Veja o passo a passo da mágica: 1. Leia a frase: O INSS aposenta o trabalhador. 2. Faça a análise sintática básica: a. o sujeito é INSS (INSS é quem aposenta). b. O objeto direto é o trabalhador (o INSS aposenta alguém. Quem? O trabalhador). 3. Leia a outra frase: O trabalhador se aposentou. 4. Faça a análise sintática básica: a. O sujeito é o trabalhador (quem se aposentou). b. O objeto direto é se (= trabalhador). Viu? Na primeira frase, o sujeito (INSS) e o objeto (trabalhador) são seres diferentes. Na segunda, o sujeito pratica e sofre a ação. São a mesma pessoa. Pra não dizer “trabalhador aposenta trabalhador”, recorremos ao pronome oblíquo. Daí o verbo ser pronominal: eu me aposento, ele se aposenta, nós nos aposentamos, eles se aposentam. Viu? Sem o pronome, a frase fica incompleta. Ao se aposentar ou desaposentar, melhor dar o recado tim-tim por tim-tim. Assim: Eu me aposento no fim do ano. Paulo se posentou há dois meses. Vamos nos aposentar juntos. Você vai se desaposentar? Eu ainda não decidi. Talvez me desaposente.   Leitor pergunta Não entendi. Pé de moleque, mula sem cabeça, maria vai com as outras, dor de cotovelo e tantos outros compostos perderam o hífen. Mas vejo joão- de-barro, castanha-do-brasil, castanha-do-pará, cana-de-açúcar e tantas outras palavras escritas com tracinho. É um peso e duas medidas? Paulo Arthur, lugar incerto A reforma ortográfica cassou o hífen dos compostos com três e mais palavras ligadas por pronome, conjunção, preposição. É o caso de pé de moleque, mula sem cabeça, mão de obra, testa de ferro, maria vai com as outras. A regra tem exceção. Espécies que pertencem ao reino animal ou vegetal (plantas e animais) mantêm o tracinho: joão-de-barro, castanha-do-pará, cana-de-açúcar, bicho-do-pé, pimenta-do-reino.

Dad Squarisi

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