Top dos tops O Linkedin tem 259 milhões de usuários. São profissionais que escrevem o próprio perfil pra se apresentarem a outros profissionais. Todos os anos, a rede divulga as 10 palavras mais usadas na rede ao longo dos 365 dias. A campeã de 2013 é responsável. A vice, estratégico. Em seguida, pela ordem, multinacional, dinâmico, organizado, especialista, criativo, eficaz, inovador, competitivo. Só belas qualidades, não? De tão usadas, viraram chavões. Não surpreendem. Nem convencem. Mas continuam lá, associadas a 10 entre 10 autorretrados verbais. Por quê? Só louco se classificaria com os contrários. A pessoa precisa rasgar dinheiro pra se rotular de irresponsável, ineficaz, preguiçosa, provinciana, desorganizada, genérica, conformada. Viu? Falta criatividade para inovar. Que tal cair fora do sempre igual? A receita: surpreender. Eno Teodoro escreveu “No princípio era o verbo. Depois, veio o sujeito e os outros predicados: os objetos, os adjuntos, os complementos, os agentes, essas coisas. E Deus ficou contente. Era a primeira oração.” Dominar a língua é… Dizer “os milhares de pessoas, os milhares de crianças, os milhares de declarações”. A razão: milhar é masculino e não abre. Muitos lhe trocam o gênero. A bobeira ocorre quando a criatura é seguida por nome feminino. Ninguém diz, por exemplo, “as milhares de homens”. Mas não falta quem se sinta muito à vontade com “as milhares de mulheres”. Nada feito. Sempre, sempre mesmo, milhar é machinho da silva. Na boca do povo Com o julgamento do mensalão, uma palavra frequenta tribunais e mesas de bar. Trata-se de semiaberto. A discussão não se restringe à aplicação da pena. Atinge a língua. Uns escrevem semi aberto. Outros, semi-aberto. Outros, ainda, semiaberto. E daí? O prefixo semi- obedece à regra do emprego do hífen. Pede o tracinho quando seguido de h ou de duas letras iguais. No caso, i. Fora isso, é tudo colado como unha e carne: semi-herói, semi-internato, semiaberto, semicírculo, semirregional. A mais sensível A classe mais sensível da língua? É o verbo. Só ele constrói orações. Sem a tão importante criatura, as palavras ficam soltas, à procura de elos. Importância cobra preço. Exige conjugação nota 10. Muitas vezes o falante não está nem aí. Distrai-se. Resultado: pisa formas que maltratam a língua. O leitor, sempre atento, protesta. É o caso de Vera Lúcia Oliveira. Ao ler o jornal, ela encontrou esta frase: “Os brasilienses se disporam a cumprir as normas”. Ops! O futuro do subjuntivo pegou o repórter pelo pé. O sofisticado tempo nasce do pretérito perfeito do indicativo. Mais precisamente: da 3ª pessoa do plural menos o -am final. Assim: Pretérito perfeito: dispus, dispôs, dispusemos, dispuser(am) Futuro do subjuntivo: se eu dispuser, ele dispuser, nós dispusermos, eles dispuserem. É isso. Com esta redação, a língua teria sido poupada e a leitora satisfeita: Os brasilienses se dispuseram a cumprir as normas. Deu bobeira A coluna passada tratou do verbo incluir e dos parceiros possuir e retribuir. Na conjugação, caiu em cilada pra lá de conhecida. Trocou o i pelo e na segunda pessoa do singular. Perdoai-nos, Senhor! Perdoai-nos, leitores! Eis a forma nota 10: Incluir pertence à equipe de possuir e retribuir. Eles exigem atenção plena no presente do indicativo. A terminação da 3ª pessoa do singular é i (inclui, possui, retribui). Muitos grafam e (inclue, possue, retribue). Bobeiam. Xô, penetra! Melhor: incluo (possuo, retribuo), incluis (possuis, retribuis), inclui (possui, retribui), incluímos (possuímos, retribuímos), incluem (possuem, retribuem).
A língua é pra lá de sociável. Conversa sem se cansar. E, no vai e…
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