Há três acentos em português. Um: agudo (café). Outro: grave (vou à cidade). O último: circunflexo (lâmpada). Ao se debruçar sobre eles, a reforma ortográfica foi pra lá de tímida. Só atingiu as paroxítonas. As oxítonas, as proparoxítonas e os monossílabos tônicos não sofreram nenhum arranhão. Continuam como dantes no quartel de Abrantes.
O que mudou?
1. O circunflexo do ditongo ôo diz adeus. Vôo, abençôo, perdôo viram voo, abençoo, perdoo.
2. O acento do hiato êem some. Vêem, crêem, dêem, lêem ganham a forma veem, creem, deem, leem.
3. O agudo do u tônico dos verbos apaziguar, averiguar, arguir & cia. se despede. Apazigúe, averigúe e argúe ganham a forma apazigue, averigue, arguem.
4. O i e u antecedidos de ditongo perdem o grampo. Feiúra, baiúca, Sauípe viram feiura, baiuca, Sauipe.
Olho vivo. A mudança não atinge, por exemplo, saída e saúde. Por quê? O i e o u são antecedidos de vogal. Não de ditongo.
5. Os ditongos abertos éi e ói mandam o acento bater em retirada. Idéia, jóia e jibóia agora exibem a forma ideia, joia, jiboia.
Atenção, muita atenção. A reforma só bateu à porta das paroxítonas. O grampinho permanece nas oxítonas e monossílabados tônicos: papéis, herói, dói.
6. Os acentos diferenciais se vão. Pêlo, pélo, pára, pólo, pêra se transformam em pelo, para, polo, pera.
Regra que se preza tem exceção. A queda dos diferenciais serve de prova. Pôde, passado do verbo poder, conserva o chapeuzinho. Pôr também o conserva. Ele é monossílabo. A reforma nem chegou perto dele.
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