Época de Lava-Jato é época de perguntas e mais perguntas. Aí, claro, não dá outra. Os pronomes interrogativos fazem a festa. Entre eles, o quê sobressai. E é aí que os miolos se contorcem e formam nós. O monossílabo ora se grafa com chapéu. Ora sem, livre e solto como passarinho na floresta. Como acertar sempre? É moleza. Basta entender as malandragens das três letrinhas.
Chapéus e grampos
Guarde isto: acento e pronúncia formam par inseparável. Agudo e circunflexo só caem sobre a sílaba tônica. Em dissílabos, trissílabos e polissílabos, descobrir a fortona é fácil como passar criança pra trás na fila. Com os monossílabos, porém, a história muda de enredo. Os pequeninos obedecem às mesmas regras das oxítonas. Acentuam-se os terminados em a, e e o seguidos ou não de s. Veja: está (dá), estás (dás), pajé (dê), pajés (dês), vovó (dó), vovós (dós).
Vira-casaca
Nada de especial. Por que, então, o quê dá nó nos miolos? Porque o danado muda de time a torto e a direito. Ora é conjunção. Ora pronome. Ora substantivo. A primeira equipe não causa problemas. Apresenta-se sempre com a mesma cara. As duas outras dão enxaqueca. Às vezes pedem chapéu. Outras vezes dispensam o acessório. Que tal desvendar-lhes as manhas? Vamos lá.
1º time
A equipe da conjunção se apresenta com a mesma cara — sem acento: Disse que acabará o curso este ano. Negou que tivesse ligado o computador. Saia mais cedo, que vem chuva por aí.
2º time
Eta dor de cabeça! O desconforto tem duas causas. De um lado, a criatura tem o poder da mobilidade. Salta daqui para ali como macaco salta de galho. De outro, varia de classe gramatical. Passa de pronome a substantivo num piscar de olhos. E daí? O preço das mudanças é o acento. Quando usá-lo? Em duas oportunidades:
1. Quando o quê for substantivo. Aí será antecedido de pronome, artigo ou numeral. Como todo nome, tem plural: Modelos na passarela têm um quê de sedutor. Qual o mistério dos quês? Este quê não me confunde mais. Corte os quês da redação. Belo quê você introduziu no discurso. Quem mandou?
2. Quando o quê for a última palavra da frase — a última mesmo, coladinha no ponto: Trabalhar pra quê?
Riu, mas não disse por quê. Você se atrasou por quê? Ele se ofendeu com quê? Quero saber a razão do emprego desse quê.
É isso
Desvendados os dois empregos, o quê recolhe-se à própria insignificância. Redatores que arrancam os cabelos por causa do acentinho chegam à conclusão óbvia: não há por que temer o quê. Ele é mais manso que o gatinho lá de casa.
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