Porque não são pronomes pessoais. Os pessoais são as próprias pessoas. Daí o nome. Eu e nós emitem mensagens (falam ou escrevem). Formam o time das primeironas. Tu e vós recebem as mensagens (escutam ou leem). Compõem a equipe das segundonas. Ele e eles são a mensagem (o assunto). O verbo, vassalo das donas do discurso, concorda com elas em pessoa e número: eu falo, tu falas, ele fala, nós falamos, vós falais, eles falam.
Os pronomes de tratamento pertencem a outra estirpe. Foram inventados pra manter distância das pessoas. A história vem do tempo dos reis que se julgavam deuses. Os súditos não podiam se dirigir a eles. Quem o fizesse perdia a cabeça — na forca ou na guilhotina. Pra manter a vida, os sabidos criaram o jeitinho.
Ao dizer Vossa Majestade, não se dirigiam ao rei, mas à majestade do poderoso. Ao dizer Vossa Excelência, dirigiam-se à excelência real. Ao dizer Vossa Senhoria, dirigiam-se à senhoria coroada. Depois, o cordão dos puxa-sacos se encarregou de bolar mais e mais formas: Vossa Santidade, Vossa Eminência, Vossa Alteza e por aí vai. Ora, se a majestade do rei pede o verbo na 3ª pessoa, e excelência vai atrás. O mesmo ocorre com santidade, eminência, senhoria.
Entendeu a jogada? O pulo do gato é este: fala-se com alguma virtude real, não com a pessoa.
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