DAD SQUARISI // dadsquarisi.df@@dabr.com.br
Nossa marca registrada? Temos algumas. As mais marcantes: o jeitinho e a procrastinação. Ambas mantêm relações íntimas. Talvez uma exista por causa da outra. Como vencer a inelutável tendência de deixar para amanhã o que podemos fazer hoje? Se possível, para depois de amanhã, a semana que vem, o ano que vem? Só recorrendo a caminhos abertos por amizade, coleguismo, espírito de corpo.
O governo não foge à regra. Sai um, entra outro, todos seguem à risca a lição do italiano Giuseppe di Lampedusa: “É preciso mudar pra ficar tudo na mesma”. Maquiados, os problemas não se resolvem de fato. As questões estruturais permanecem. Daí os gargalos da imprevidência. Apagões, caladões, filas, violência, insegurança, congestionamentos, analfabetismo funcional são resultado de administrações que não olham pra frente, não planejam, não investem no futuro.
Dilma surpreendeu. Ao peitar inimigos históricos do cidadão, provou o provado. O Estado dispõe de meios pra trocar reticências por pontos finais. Graças à pressão do Planalto, o poderoso sistema financeiro baixou os juros. As telefônicas receberam ultimato. Os planos de saúde ou dão conta do recado ou caem fora. Ela não precisou inventar nada nem criar órgãos. Estava tudo à disposição. Bastou acionar a chave.
A Caixa e o Banco do Brasil reduziram o preço do dinheiro. Com a portabilidade, os clientes das demais instituições financeiras poderiam se bandear para as estatais. Itaú, Bradesco & cia. abriram mão de (poucos) anéis pra manter os dedos. As agências reguladoras existem desde o governo FHC. Por que não atuam? Atuaram. Operadoras de telefonia móvel, internet e planos de saúde sentiram o tranco. A corrida por novos clientes sem a correspondente infraestrutura perdeu o ritmo e a desenvoltura.
Há décadas estradas, portos e aeroportos atravancam o desenvolvimento. Agora, ante a crise que ameaça engolir as conquistas que tiraram milhões de brasileiros da pobreza, o Planalto estuda a rápida privatização dos setores essenciais ao ir e vir de pessoas e mercadorias. Por que tão tarde? O país tem experiência de privatizações bem-sucediddas. A resposta: preferimos rimar procrastinação com encenação. É o faz de conta, que não rima, mas impera.
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