A Associação Brasileira de Telesserviços lançou um prêmio na praça. Quer, com ele, homenagear empresas e profissionais que se destacam no setor. Para divulgar o evento, pôs anúncios em jornais e revistas. Ao lê-los, interessados ou indiferentes estranharam a grafia de telesserviço. “Está correta?”, perguntaram ao blog.
Ops! Trata-se do velho e enigmático hífen. A história do tracinho vem de longe — dos tempos em que se escrevia o rascunho da Bíblia. Conhece? A terra tinha uma só língua e um só modo de falar. Ninguém precisava estudar inglês, francês, árabe ou alemão. Todos se entendiam.
— Que mundo monótono, disseram os homens. Vamos agitar. Que tal construir uma torre que nos leve até o céu? Lá as coisas devem ser mais animadas.
Semanas depois, o Senhor deu uma espiadinha na obra. Irou-se:
— As criaturas pensam que é fácil chegar ao céu? Enganam-se. Os caminhos são outros. Os filhos de Adão vão ver.
O castigo veio a galope. Deus criou mais de três mil línguas. Os pedreiros de Babel não se entenderam mais. Engenheiros, arquitetos, mestres-de-obra tampouco. A torre ficou ali, esqueleto inacabado. Os homens se dispersaram.
Castigo de Deus
Cada língua ganhou punição à parte. O chinês ficou com os mais de 23 mil ideogramas (aqueles desenhozinhos que os alunos estudiosos levam 12 anos para decorar). O inglês, com a escrita totalmente diferente da pronúncia. O francês, com a praga dos acentos. Ninguém sabe colocá-los. O alemão, com as palavras coladas, tão compridas quanto a cobra que tentou Eva no paraíso.
E o português? Ganhou o hífen. O Todo-Poderoso pegou um montão de hifens na mão direita, um montão de palavras na esquerda. Jogou tudo pro alto. O resultado? A confusão que todos conhecem. Algumas palavras se ligaram com hífen (anti-social), outras não (antiimperialismo). Por quê? É o castigo de Deus.
Longe do hífen
Na corrida do pega-hífen-não-pega-hífen, alguns elementos nem chegaram perto do sinalzinho. Eles nunca, nunca mesmo, se usam com hífen. Um deles é o tele-. Aquele que aparece em televisão para dar a idéia de “de longe”. Daí telefone (voz de longe), televisão (imagem de longe), telegrama (mensagem escrita transmitida de longe).
Nesta era de compras pelo telefone, a confusão com o tele é geral. Ora a palavra aparece com o tracinho, ora sem. Não acredite nos seus olhos. Tele nunca aceita hífen: telecimento, telepizza, teletáxi, telenovela.
No caos divino, há uma lei. As palavras escritas com tele mantêm a pronúncia e o acento originais. Por isso, diante do s e do r, é necessário respeitar a pronúncia — telessinalização, telessonda, telerradar, telerreserva, telerremédio. Assim, com dois ss e dois rr. Por quê? O s entre duas vogais soa z (casa, pesquisa, pesadelo). O r fica fraquinho como em caro.
Resumo da opereta: telesserviço, obedicente à lei, respeita a fonética. Daí a dose dupla do s.
Desencontro
Está pensando na TeleSena? Nome fantasia, a loteria deixou de dobrar o s. A pronúncia virou telezena. Daí o desencontro. A gente pensa na telessena. Joga na telezena. Resultado: só ganha na sorte.
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