Montaigne, há 400 anos, ensinou que o estilo tem três virtudes – clareza, clareza e clareza. A razão é simples. Mário Quintana a expôs num texto divertido. Disse ele: “O autor pensa uma coisa, escreve outra, o leitor entende outra, e a coisa propriamente dita desconfia que não foi dita”.
O ponto e vírgula é fã da clareza. Daí a importância de saber empregá-lo e, com isso, facilitar a vida do leitor que se deixará conquistar pelo enunciado fácil e sem ambiguidade. Quer ver? Examine esta frase:
João trabalha no Senado, Pedro trabalha na Câmara, Carlos trabalha no banco, Beatriz trabalha na universidade, Alberto trabalha no shopping.
O período está correto e compreensível. As vírgulas separam as orações coordenadas. Mas há um senão. A repetição do verbo torna-o cansativo e denuncia o autor preguiçoso.
O que fazer? Há uma saída. Pôr em prática uma das regras de ouro do estilo – variar para agradar. A gente mantém o verbo na primeira oração. E mete a faca nos demais. No lugar deles, põe a vírgula:
João trabalha no Senado, Pedro, na Câmara, Carlos, no banco, Beatriz, na universidade, Alberto no shopping.
Ops! Na primeira leitura, o enunciado parece o samba do texto doido. Quem bate o olho no período não entende nada. O jeito é recorrer ao ponto e vírgula. Ele tem lugar – separa as orações coordenadas:
João trabalha no Senado; Pedro, na Câmara; Carlos, no banco; Beatriz, na universidade; Alberto no shopping.
Chique, não? Veja mais dois exemplos:
Eu estudo na USP; Maria, na UnB.
Alencar escreveu romances; Drummond, poesias.
Carlos e Paulo são jornalistas. Este trabalha no Correio; aquele, no Estado de Minas.
Moral da história: Se o casalzinho ponto e vírgula existe, tem razão para estar no mundo e no texto sofisticado. Ele desempenha dois papéis na frase melhor que vírgula, ponto e travessão. Um deles, estende tapete vermelho e recebe a clareza com banda de música e salva de palmas.
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