Há palavras e palavras. Algumas informam. Outras emocionam. Há as que mobilizam para a ação. Todas têm hora e vez. Cuidado especial merecem as que ofendem ou reforçam preconceitos. Grupos organizados – movimento negro, movimento gay, movimento feminista – estão atentos aos vocábulos politicamente incorretos. Recomenda-se cuidado para não ofender nem agredir o leitor ou o ouvinte.
Mas não exagere. Cabeleireiro é cabeleireiro, não hair stylist. Costureira é costureira, não estilista de moda (outra especialidade). Manicure é manicure, não esteticista de unhas. Empregada doméstica é empregada doméstica, não secretária do lar. Dona de casa é dona de casa, não do lar ou especialista em prendas domésticas. Cego é cego, mudo é mudo, surdo é surdo, surdo-mudo é surdo-mudo. Pessoa com deficiência nem sempre tem a precisão desses termos. Quando necessário, use-os sem constrangimento.
Curiosidade
O radialista Airton Medeiros estava entrevistando ao vivo a presidente de uma associação de cegos em programa da Rádio Nacional. Tratava-a de cega até receber um papelzinho com a recomendação de que a tratasse de “pessoa com deficiência visual”. Antes de obedecer à ordem, perguntou se deveria continuar tratando-a de cega ou tinha de mudar para pessoa com deficiência . Ela aproximou as mãos do rosto dele até tocar os óculos. Então afirmou: “Pessoa com deficiência visual é você, que usa óculos. Eu sou cega”.
Alvo
Cor, idade, peso, altura, origem, condição social e tendências sexuais são as principais vítimas das brincadeirinhas, piadas preconceituosas ou uso “sem intenção de ofender” . Como agir?
1. Alto, baixo, gordo, magro, grande, pequeno são relativos. Alguém pode ser alto pra uns e baixo pra outros. Diga a altura, o peso, o tamanho: 1,95m, 50kg, 300kg.
2. Negro é raça. Nessa acepção, use-o sem pensar duas vezes. Pelé é negro. Não é escurinho, crioulo, negrinho, moreno, negrão ou de cor.
2.1. Evite o adjetivo negro em expressões de conotação negativa. Em vez de nuvens negras, prefira nuvens pretas ou escuras. Em lugar de lista negra, dê nome aos bois: lista de maus pagadores, lista de alunos relapsos, lista de sonegadores.
2.2. Apague denegrir de seu dicionário. Prefira comprometer. Elimine também judiar (da família de judeu). Substitua-o por maltratar.
2.3. Quer indicar cor? O preto está às ordens.
3. Paraíba e cabeça-chata? Não. Identifique o estado de origem com precisão (paraibano, pernambucano, cearense). Se quiser generalizar, use o adjetivo indicador da região: nordestino, nortista, sulista.
4. Bicha, veado, sapatão? Xô! Fique com homossexual, gay, lésbica, LGBT.
Diga
chinês, coreano, japonês (não: japa, china, amarelo)
idoso (não: velho, decrépito, gagá, pé na cova)
pobre, pessoa de baixa renda (não: pobretão, pé de chinelo, ralé, mulambento, raia miúda)
pessoa com deficiência (não: portador de deficiência, deficiente físico, deficiente mental)
religioso (não: papa-hóstia, igrejeiro, carola)
travesti (não: traveco)
Conclusão
Vale o bom senso. Na dúvida, pergunte-se se a palavra ou a expressão podem ofender alguém ou reforçar preconceito. Se a resposta for sim, busque alternativa.
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