A Copa acabou. Mal a França levantou a taça, a campanha eleitoral entrou no
ar. Os candidatos querem fazer bonito. Contratam marqueteiros. Fantasiam-se
de bonzinhos, trabalhadores e competentes. Ensaiam o discurso. Esbanjam
próclises e mesóclises. Treinam formas rizotônicas e arrizotônicas.
Sobretudo evitam o eu.
O pronomezinho dá a impressão de arrogância. Saída? Os loucos pelo poder
recorrem a truques. O mais popular: o plural de modéstia. Em vez do eu,
usam nós. É mentirinha. O nós continua eu. Por isso, o emprego da
falsa modéstia impõe regras. O verbo vai para o plural. Mas adjetivos e
substantivos ficam no singular:
Ciro disse:
— Nós somos candidato preparado e experiente.
Alkmin não deixou por menos:
— Nós somos modesto e corajoso.
Se o sujeito fosse sincero, o nós se referiria a mais de uma pessoa. Aí,
as frases seriam: “Nós somos candidatos preparados e experientes. Nós somos
modestos e corajosos”.
É isso. Como diz o outro, as aparências enganam. A língua, generosa,
colabora. Olho vivo!
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