“Só valoriza a primavera quem conhece o inverno”, dizem os moradores dos países gelados. “Só valoriza o Hino Nacional quem está no exterior”, comentam os patriotas. Na terra dos outros, ver hasteada a bandeira verde-amarela mexe com o coração. Ouvir o hino liquefaz a alma. Aqui muitos torcem o nariz na hora de se pôr em posição de sentido para ouvir ou cantar o símbolo nacional. Por quê?
Muitos atribuem a má vontade à dificuldade de compreensão. Escrito em 1909 em ordem inversa e recheado de palavras difíceis, o texto obriga adultos e crianças a fazer o papel de papagaios — falar sem entender. Bancas examinadoras deitam e rolam. Cobram a compreensão de passagens do longo texto. Eis a freguesa preferida:
Qual o sujeito de: Ouviram do Ipiranga as margens plácidas De um povo heroico o brado retumbante.
Resposta
Pra chegar lá, sigamos o conselho do esquartejador. Vamos por partes:
1. Pôr os versos em ordem direta: As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heroico.
2. Perguntar ao verbo: quem é que ouviu? A resposta é o sujeito — as margens plácidas do Ipiranga.
Margens ouvem? Em literatura pode-se tudo. Tudo mesmo. Até dar ouvidos a margens. Trata-se da personificação.
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