ARNALDO NISKIER Estamos vivendo um período de grandes perplexidades e, aparentemente, muitas contradições. Por um lado, alguns intelectuais mais apressados anunciaram o fim dos livros, jornais e revistas impressos em papel. Comemoram, com isso, a sobrevivência de milhões de árvores que deixariam de ser abatidas.
Por outro lado, foi divulgada a notícia de que, no Brasil, nos dois últimos anos, a venda de jornais cresceu significativamente, em parte devido à ampliação dos limites da nossa classe média, em virtude do sucesso das políticas econômicas do governo. E um dado formidável: os jovens estão lendo mais, não se contentando apenas com as notícias colhidas na internet.
É claro que o fenômeno alcança em cheio os livros didáticos, uma indústria muito prestigiada pelo Ministério da Educação, que compra quase R$ 900 milhões por ano de livros para distribuição gratuita a alunos carentes das nossas escolas de educação básica. Já imaginaram o baque que representaria o fim ou a diminuição dessas compras às principais editoras do nosso país, algumas das quais têm se associado a gigantes do mercado internacional?
Não existe uma visão clara a respeito do problema. A poderosa Apple (lucro de US$ 13 bilhões no último trimestre de 2011) lançou mais dúvidas quando anunciou a sua entrada, nos Estados Unidos, no grande mercado de educação, produzindo livros eletrônicos de altíssima qualidade e a preço baixo. Vêm aí tabuletas coloridas, lousas eletrônicas, associadas a vídeos e jogos interativos, que fascinam o espírito dos nossos jovens. Teremos cursos on-line e aulas virtuais que acabarão configurando o que chamamos de pedagonet, ou seja, uma nova visão da pedagogia do futuro, mudando completamente o que até aqui considerávamos a tradicional relação ensino-aprendizagem.
Os professores serão substituídos pelas máquinas? Mesmo que os novos livros custem menos de US$ 10, nessa nova realidade, a nosso ver será sempre necessária a orientação e o aconselhamento dos mestres, sobretudo quando advierem as dúvidas naturais. Quem as tirará? O sonho de que isso possa ser feito em casa, por pais preparados, não contempla a realidade dos fatos. Sabe-se que, na prática, somente 10% dos pais se envolvem nos estudos dos filhos, sendo esse número ínfimo quando se trata de escolas públicas. Esse quadro não nos parece que possa ser mudado com facilidade — e em pouco tempo.
O que precisa ser feito — e aí vai um conselho não solicitado pelo Ministro Aloísio Mercadante — é uma revolução rápida e inadiável nos cursos de formação de professores. É matéria para figurar no anunciado Pacto Nacional da Educação. Fala-se nisso há tanto tempo que se tornou uma ladainha cansativa, sem resultados práticos. Quem conhece os cursos de pedagogia, como é o nosso caso, não acredita que eles possam sobreviver, nas suas atuais estruturas, que passam ao largo de todas essas incríveis mudanças.
Há milhares de professores que não sabem utilizar um computador, outros milhares não têm acesso às máquinas novidadeiras. Se eles não sabem, são orientados pelos alunos, numa inversão da dinâmica desejável. Os jovens são sensíveis, respeitam os que sabem mais, não os que aprendem com eles.
Eis aí um desafio posto à face da atual geração. O Conselho Nacional de Educação, que merece o nosso respeito, deveria concentrar as suas baterias nesse processo de adaptação da educação brasileira aos novos tempos, deixando de lado questões menores, como a discussão sobre o hipotético “racismo” de Monteiro Lobato. Racismo é cruzar os braços diante do avanço ciclópico do conhecimento e de suas máquinas inovadoras. Que milagre está sendo esperado pela nossa geração para mudar esse quadro?
Em tempo: um dos meus genros, ao ler no computador a nova proposta da Apple, em duas horas de trabalho transformou 100 páginas em papel num belíssimo livro eletrônico.
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