DAD SQUARISI // dadsquarisi.df@dabr.com.br
Dois assuntos indignaram os brasileiros. Um: a divulgação do livro do MEC que considera corretas construções como “os livro” ou “nós pega o peixe”. O outro: o anúncio de que o BNDES financiaria a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour. A bolada? Nada menos de R$ 4,5 bilhões.
Diante dos protestos, o governo padronizou a desculpa. Luciano Coutinho, Mantega, Ideli, Humberto Costa & cia. se vestiram de nacionalismo. Destacaram a importância de o país ter uma das maiores redes de varejo do mundo. O BNDES, cujo dinheiro é o mais barato do mercado, se tornaria sócio do empreendimento. Etc. Etc. Etc.
Ninguém engoliu. Especialistas puseram em xeque a tese chapa-branca. As redes sociais se entupiram de gritos e berros. As seções de cartas dos jornais receberam dezenas de correspondências. E-mails chegaram em cascata às caixas de deputados e senadores. Resultado: o BNDES deu pra trás. E, com ele, o negócio.
Por que o esperneio? Vale o palpite. Tanto “os livro” quanto o negócio bilionário trouxeram à tona as falências do Estado. Pagamos uma das maiores cargas tributárias do mundo. São três meses e meio de salário. Mas a voracidade arrecadatória não se traduz em contrapartida. A escola devolve aos pais filhos incapazes de entender um texto ou escrever um bilhete. As faculdades despejam profissionais do nível dos barrados na OAB. A saúde pede socorro. A violência põe o cidadão atrás de muros. Cracolândias espalham-se livres. Ônibus ficam no caminho. A corrupção corre solta.
“Chega”, disseram os antenados. A internet lhes ampliou o brado. Viva! Aos poucos, descobrimos o papel da indignação. Mudanças são conquistadas com pressão. Vence o mais forte. Quem? A sociedade organizada. O contribuinte se conscientiza do próprio poder depois de histórica letargia. Em meio século, vivemos duas ditaduras. Ao Grande Pai de plantão cabiam as iniciativas. O cidadão se contentava com a generosidade estatal. Achava que recebia favor. Não se dava conta de que pagava – e caro – por ela. O cenário começa a mudar. A desconfiança se insinua aqui e ali. O pai não é pai. É padrasto.
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