“Nós podemos”, insistiu. Negros, brancos, asiáticos, judeus e muçulmanos acreditaram. Ali estava alguém como eles que chegou lá. Ele abriu a porta da esperança e subiu na vida — ideal dos imigrantes que buscaram a América. Obama era a prova do “nós podemos”. Convenceu. George W. Bush ajudou. Com a Bíblia na mão, o presidente de plantão disseminou o preconceito, a intolerância e o ódio. O povo deu o troco. Xô!
Nós podemos
Com o refrão “nós podemos”, Obama trouxe o verbo poder ao cartaz. Conseguirá conjugá-lo conforme o prometido? Esperamos que sim. Enquanto torcemos, vale lembrar. A reforma ortográfica pôs os acentos diferenciais pra correr. Pára, pêra, pólo, pêlo perderam grampos e chapéus. Viraram para, pera, polo e pelo. Mas pôde, passado de poder, mantém o circunflexo. Trata-se da exceção que confirma a regra. Pôde é a única paroxítona que teima em se diferenciar ostensivamente do presente do mesmo verbo: Ontem ele pôde sair mais cedo. Hoje não pode.
Depois da tempestade
Outro verbo que ocupa as manchetes? É suceder. A regência do trissílabo dá nó nos miolos de falantes e escritores. Obama sucede Bush? Obama sucede a Bush? As duas formas aparecem a torto e a direito. Mas a norma culta tem preferência. Morre de amores pela preposição a. Na acepção de substituir, vir depois, o objeto indireto é pra lá de bem-vindo. Assim: Obama sucede a Bush. A noite sucede ao dia. Fernando Gabeira quis suceder a César Maia. Fracassou. Agora quer suceder ao governador Sérgio Cabral. Ninguém sabe se conseguirá lhe suceder.
Senhor se
Olho vivo! Suceder pode ser pronominal. Vira, então, suceder-se. Significa vir ou acontecer depois. Eis exemplos: Na fazenda, os dias e as noites sucediam-se com irritante monotonia. Governantes se sucedem a governantes. Grifes se sucederam na passarela do Rio Fashion com criatividade, talento e ousadia.
Nem pensar
Na acepção de ocorrer, todo cuidado é pouco. Suceder, aí, tem alergia ao se. Pra evitar vermelhões e brotoejas, manda o monossílabo bater à porta de outra freguesia: O horror está sucedendo (não: se sucedendo) em Gaza. O que sucedeu nas conversações do ministro brasileiro com a ministra israelense? O que sucederá nos quatro anos do governo Obama? Só a bola de cristal pode responder.
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