“Trabalhar pra quê?’’, pergunta a capa do suplemento Emprego. A questão gerou polvorosa. Leitores e curiosos estranharam uma palavrinha. A turma se dividiu em dois grupos. Um recusava o circunflexo do quê. O outro pedia acento. E daí?
O quê é grande criador de caso. Não cansa de provocar dores de cabeça nos pobres tupiniquins. Recursos não lhe faltam. De um lado, a criatura tem o poder da mobilidade. Troca de lugar como nós trocamos de camisa. De outro, muda de classe gramatical. Passa de pronome a substantivo com a facilidade com que Débora Secco descarta parceiros.
Ele faz as artes. Nós pagamos o pato. O preço é o acento. Quando usá-lo? Em duas oportunidades:
1. quando o quê for substantivo. Aí será antecedido de pronome, artigo, adjetivo ou numeral: Bush tem um quê de desvairado. Qual o mistério dos quês? A dica de hoje trata do quê com acento e sem acento. Este quê não me confunde mais. Belo quê você introduziu na redação.
2. Quando o quê for a última palavra da frase. É o caso da pergunta do suplemento: Trabalhar pra quê? Riu, mas não disse por quê.Você se atrasou por quê? (Compare:Por que você se atrasou?).
É isso. Desvendados os dois empregos, o quê recolhe-se à sua insignificância. Os leitores que arrancavam os cabelos por causa do acentinho chegam à conclusão óbvia: o diabo não é tão feio quanto o pintam. O quê diz por quê.
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