A curiosidade é geral. Estudantes, jornalistas, advogados, todos querem saber por que o porquê tem tantas caras. Ora aparece junto. Ora, separado. Ora com acento. Ora sem o chapeuzinho. Não há quem não hesite na hora de escrever uma forma ou outra. Uma pergunta, por isso, se escuta a torto e a direito:
— Por que será? Será por quê?
Muitos chutam. Mas, como a língua não é loteria, a Lei de Murphy entra em vigor. Se pode dar errado, dá. Melhor não correr riscos. Afinal, desvendar o segredo da duplinha é fácil como andar pra frente. No fundo, no fundo, trata-se de um segredo de polichinelo.
Por que – assim, um pra lá e um pra cá – tem dois empregos:
1. nas perguntas: Por que os professores estimulam a leitura? Por que é importante a presença dos pais na escola? Por que a evasão escolar continua alta no Brasil?
2. nos enunciados em que é substituível por “a razão pela qual”: É bom saber por que (a razão pela qual) os professores estimulam a leitura. Explique por que (a razão pela qual) se impõe a presença dos pais na escola. Por que (a razão pela qual) se deve usar roupa leve no verão.
Por quê — circunflexo só tem vez quando o quezinho for a última – a última mesmo – palavra da frase. Sabe por quê? Ele é átono. No fim do enunciado, torna-se tônico. O acento lhe dá a força: Os professores estimulam a leitura por quê? A evasão escolar continua alta, mas poucos sabem por quê.
Porque – desse jeito, juntinho como unha e carne, é conjunção causal ou explicativa: Os professores estimulam a leitura porque bons textos enriquecem o vocabulário. A evasão escolar continua alta porque muitas crianças trabalham em vez de ir à aula. Use roupa leve, porque faz muito calor no verão.
E o porquê? Assim, com chapéu, porque deixa de ser conjunção. Torna-se substantivo. Para mudar de classe, precisa da companhia do artigo ou de pronome: Explicou o porquê da evasão escolar no Brasil. Certos porquês quebram a cabeça da gente. Não sei responder a este porquê.
É isso. Não há por que temer os porquês. Quem entendeu a lição sabe por quê.
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