Redatores e revisores nem sempre se entendem. Volta e meia, uma correção vira um pega pra capar. Uns e outros medem forças. Cada um quer provar que está certo. O pomo da discórdia mais recente é o verbo apontar. Sempre que aparecem frases como “a pesquisa aponta que haverá empate técnico”, arma-se baita confusão. “Apontar não aceita a conjunção que”, explicam os guardiões da língua. “Aceita”, batem pé os profissionais que ganham o pão deles de todos os dias escrevendo, escrevendo, escrevendo.
A revista Nova Escola jogou gasolina na fogueira. Eis a manchete de capa: “Estudo aponta que curso a distância que mais cresce no país tem os mesmos problemas do ensino presencial”. Ops! E daí? A edição deu uma bola dentro. A distância, quando indeterminada, não aceita crase. O acentinho só tem vez com a distância especificada (falou à distância de 100m). Mas tropeçou no apontar. Ele não joga no time dicendi — o dos verbos que falam e dizem.
Verbo dicendi
O Houaiss define o verbo dicendi deste jeitinho: “Verbo dizer e sinônimos ou afins, cujo objeto direto é uma oração substantiva que exprime o conteúdo de um ato de fala”. Cita dois exemplos: João disse que vai viajar. Maria declarou estar doente.
Guarde isto: o dicendi exprime o conteúdo de um ato de fala. Além de dizer e declarar, pertencem ao time falante: afirmar (afirmou que sairia), responder (respondeu que conhecia os réus), negar (nega que tenha participado do crime), pedir (pediu que saíssem mais cedo), solicitar (solicitei que me encaminhasssem o documento), rogar (rogou que estudassem um pouco mais), ordenar (ordenamos que partissem mais cedo), mandar (mandou que os estudantes fossem à biblioteca), jurar (jurou que era inocente).
Vamos combinar?
O apontar não se refere à fala de ninguém. Com ele, a conjunção que quer distância. Vade retro, santanás!
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