O peso das palavras

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Al Martin

Estante e prateleira são sinônimos? Sim e não. A linguagem popular não faz muita diferença, usa um pelo outro. Mas o fundo das coisas é o seguinte: estante é um móvel composto de um certo número de prateleiras. Portanto, stricto sensu, não são sinônimos exatos.

Estada e estadia são sinônimos? À primeira vista, sim. Acontece que cada um desses dois termos se especializou. Quando recebemos uma visita, dizemos que ela veio para uma estada de três dias. Se deixamos o automóvel num estacionamento, pagaremos um montante correspondente à duração da estadia do veículo. Navios também fazem estadia no porto. Convém, portanto, usar estada para gente e estadia para veículos.

Foi noticiado estes dias que um artista de origem britânica, estabelecido em nossa terra há vários decênios, está lançando um disco com músicas cantadas exclusivamente em inglês. Li em algum lugar que o referido cantor usava o codinome Ritchie.

Nome, codinome, apelido, alcunha, cognome, denominação, epíteto são palavras semelhantes, mas estão longe de ser sinônimos perfeitos. Cada uma delas tem seu valor e seu peso. Para não trocar os pés pelas mãos, convém respeitar essas particularidades.

Nome, apelido, denominação e epíteto são neutras, não trazem embutida nenhuma ofensa. O apelido de Roberto é Beto. Já o mesmo não se dá com os outros aparentes sinônimos.

Alcunha e cognome são termos com forte carga depreciativa que caem bem na linguagem policial. Tirofijo era a alcunha de um dirigente terrorista. Beira-mar é o cognome de um conhecido traficante.

Por último, sobrou o estranho codinome. Não se pode cobrar de jovens jornalistas o conhecimento profundo de uma realidade que não viveram. Mas vale a pena aprender. Nos anos 1970, pequenos grupos, às vezes armados, se insurgiam contra o poder central. Na tentativa de burlar a repressão, seus membros ocultavam o nome de batismo e adotavam nome(s) de fachada, nome(s) de código. Foi nessa época que o vocábulo codinome se popularizou.

Aos remanescentes daqueles indivíduos — alguns dos quais ocupam hoje postos de mando na república — não agrada que se tragam à tona símbolos que marcaram fortemente aqueles tempos duros. Um desses símbolos é justamente a palavra codinome.

Melhor evitar esse termo. Aplicá-lo, então, a um artista atual pega mal pra caramba. Ele certamente não merece.

Dad Squarisi

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