O inferno existe? “É a velhice”, respondeu Bibi Ferreira. “É o exílio”, disse João Goulart. “É a obrigação de bater ponto”, jurou o funcionário público. “É esperar ônibus em Brasília”, afirmou velho morador da capital. “O inferno são os outros”, sentenciou Sartre.
Será? Quem falou mirou o próprio umbigo. Se a pergunta fosse feita hoje, talvez a opinião fosse outra. “O inferno”, diriam eles, “é o Mediterrâneo.” Pelo mar vão milhares de africanos e árabes. Eles fogem de guerras, perseguições, desabrigo, fome e sede.
Embarcam em navios precários. Sem segurança, apostam na sorte. A morte os espera no meio do caminho. As águas revoltas, além de inferno, se transformam em cemitério. Corpos vão pro fundo e lá ficam. Outros boiam na busca de socorro que tarda e falha. Nas manchetes
A tragédia virou notícia. Jornais, rádios e tevês falam no assunto. Duas palavras entraram em cartaz. Uma: emigrante. A outra: imigrante. Ambas pertencem à mesma família. É a latina migrare, que significa mudar, passar de um lugar para outro, ir-se embora. Só uma letra as distingue. O e e o i fazem a diferença.
E = para fora. I = para dentro.
Quem se despede do próprio país e parte pra outro joga nos dois times. Ao sair, é emigrante. Ao chegar, imigrante. Os africanos emigram da Somália e da Nigéria. Os árabes, da Síria e do Iraque. Eles imigram para a Europa. A Itália recebe o maior número de imigrantes. A razão: é a menor distância entre o porto de saída e o de chegada.
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