Nova ortografia

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MARCELO NAVARRO

Membro eleito da Academia Rio-Grandense de Letras (mndantas@uol.com.br)

Os absurdos do ultimo acordo ortografico – em espesial, os atinentes ao uso do ifen, qe se tornou inteiramente arbitrario, com regras injustificaveis i qe impoem sempre a consulta ao VOLP, ou vocabulario ortografico da lingua portugeza – levaram a uma reasao de parte dos escritores, educadores i da intelligentsia, qe xegou ao climacs com o projeto de nova ortografia, ora no Senado, onde corre a ideia de uma simplificasao cuaze radical.

A baze da reforma consiste na tentativa de fazer corresponder a cada letra o som do fonema qe ela reprezenta. Assim, se o som e “k”, as letras serao sempre “c” ou “q” (i no cazo deste ultimo, dispensado o “u” qe costumava seguilo). Se e “s” (sibilante), sera sempre “s”, mesmo cuando se escrevia “ss”, “ç”, “sc”, “xc”, etc.; se o “s” soar como zumbido, usase o “z”. O “ch” vai sempre ser reprezentado por “x” i asim por diante.

O “g” vai ser uzado apenas em palavras como “gato”, “gravata” ou “gerra” (o contrario de paz). Em outras situasoes, devese escrever “jente” ou “jigante”. Jenial, nao? Dezaparese o “h” mudo – sim, omem de Deus! – i some de vez o ifen.

Muitos estao estrilando, axando qe a mudansa e radical demais. Ja eu, embora axe uma maluqise, penso qe, se e para avansar nesa trilha absurda – de favoreser a pura pregisa de aprender i ensinar —, tinhamos qe ir mais lonje i eliminar todos os asentos e sinais diacriticos, como estou fazendo neste texto, escrito nos termos da proposta senatorial, acresida de dois outros – ra, ra! – avansos: o ja mensionado fim de todos os asentos, incluido o til, qe asento propriamente dito nao e — obrigado, obrigado pelas palmas, senhores dijitadores! –, i um truqezinho para rezolver o conseqente problema de saber cuando se trata da conjunsao antigamente grafada como “e”, ou do presente do verbo ser, antes escrito “é”: no segundo cazo, pasase a uzar “e”, mas no primeiro, empregase o “i”, como na lingua catalan.

O problema e qe esa reforma nao vai funsionar, seja do jeito que ora esponho, seja como consta do projeto qe corre na Camara Alta do Lejislativo Federal. I esplico por qe: primeiro, alguns fonemas são mesmo enganadores. Ai mesmo, em “mesmo”, esse “s” reprezent—, respondam! I as variasoes regionais de pronuncia? “Txia”, qe “djia” e oje? Salvo as criansas gauxas, as do resto do Brazil vao tender a escrever “Braziu”…

Aqui no nordeste, vamos grafar “nordexte”, porque xiamos no meio desa palavra. “Cariocax” i “recifensex” vao por “x” no fim de “todox ox pluraix”, porqe e asim qe os pronunsiam. Os paulistas vao grafar “subzidio”… i pelo pais afora vai ser uma luta saber se devese escrever “mininu”, “normau”, “ixto”, etc., etc., etc. Vejam qe nem falo da pronuncia de Portugal – onde se pronuncia como “x” o “sc” da antiga “nascer”, por ezemplo – e dos outros paizes luzofonos, porqe a proposta e escluziva do Senado brazileiro…

A reforma se pretende fonetica, mas esta depende muito da prosodia, qe varia demais… Em vez desa luta ingloria, vamos — iso sim — melhorar a educasao no noso pais. Alegase qe a ortografia vijente e muito difisil, porem muito mais e a do mandarim, i os xinezinhos estao cuaze todos alfabetizados. Na Coreia, cujo alfabeto tambem nao deve ser fasil – ou seria fasiu? —, praticamente nao a analfabetismo. Faltanos, parece, dispozisao para o trabalho, falta empenho, falta… vergonha! Vamos fazer, entao, em vez da ortografica, outra reforma, a da vergonha. Minha proposta: tomala. I na cara!    (Artigo publicado no Correio Braziliense de 2.9.14.)

Dad Squarisi

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