No ar, o programa eleitoral

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As Olimpíadas acabaram. É hora de prestar atenção às eleições. O Distrito Federal, que não tem prefeito nem vereador, está fora da campanha. As demais unidades da Federação têm de conviver com discursos, promessas, santinhos & cia. pra lá de conhecida. É isso mesmo. O senhor chavão pede passagem.
Na origem, o dissílabo significava chave grande ou molde de metal. Servia para imprimir adornos em bolos ou marcar o gado. Tem a ver com repetição. Num sentido amplo, é o que se faz, se diz ou se escreve por costume — como tirado de  um molde. Eta chatura!

Quer lugar mais comum que sorriso de candidato? E o discurso? Tem três marcas. Uma: recorre a palavras mágicas. Bate na tecla do emprego, da educação, da saúde, da segurança. Outra: destaca uma só preocupação — o povo. A última: revela super-homens. Todos são capazes de resolver todos os problemas. Como? Com boas intenções e o voto dos crédulos.


Seis por meia dúzia

Programa eleitoral tem um montão de defeitos. É chato, repetitivo e mentiroso. Mas tem qualidades. Uma delas: amplia nossa cultura. O maior lucro fica com a lingüística. Não pela variação vocabular, nem pelo respeito à sintaxe e à prosódia. Mas pela sofisticação dos termos. Palavras gregas e latinas jogam luz na fala dos candidatos, iluminam-lhes as idéias, denunciam quem é quem.

A tautologia sobressai. Na boca do povo, a polissílaba sofisticada ganhou tradução em bom português: trocar seis por meia dúzia. Raciocínio circular, fala sem dizer. Parece cachorro correndo atrás do rabo. O bicho roda em tal velocidade que deixa a impressão de que vai tirar a mãe da forca. Mas não sai do lugar. É o caso do requerimento que requer, do diretor que dirige, do gerente que gerencia.

Nossos candidatos esbanjam tautologias a torto e a direito. Matam a fome com comida, a sede com água, a escuridão com eletricidade. Diminuem o desemprego com emprego, a falta de vagas com vagas, a desonestidade com honestidade. Aumentam a oferta de transporte com mais ônibus e vans. Acabam os projetos inacabados com a conclusão das obras. Quer mais? Deixe o hedonismo pra lá. Gaste uns minutinhos diante da telinha.





Dad Squarisi

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Dad Squarisi

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