É ou são? Ops! Trata-se do verbo ser. Ele é complacente. Ora aceita uma forma, ora outra. Ora as duas. Especial, recebe tratamento diferenciado. Na concordância, a gramática lhe reserva capítulo à parte.
Hoje é 2 de setembro? Ou são 2 de setembro? Cem reais é muito? Ou são muito? É quase duas horas? Ou são quase duas horas? Dúvidas. Muitas dúvidas.
Sem rigidez
O verbo ser tem a cintura mais flexível do português. Nunca toma posição firme. Ora considera o sujeito simpático. Vai pro lado dele. Ora o predicativo o atrai mais. Eterno infiel, passa pro lado de lá.
Nem tudo é flores ou nem tudo são flores? O verbo olha para flores. Acha-as simpáticas, coloridas e cheirosas. Decide: Nem tudo são flores. Em outras horas, lembra-se do que aprendeu na escola (o verbo concorda com o sujeito). Muda de lado: Nem tudo é flores.
Qual a forma correta? Ambas.
Jogo duplo
Com o ser, quase sempre as duas construções estão corretas. Há apenas três casos em que ele é durão. Inflexível, aceita apenas um número — ou é singular, ou é plural.
Na indicação de horas, o verbo só tem olhos para o predicativo. Concorda com o número que diz as horas: É meio-dia e meia. Seria uma hora da tarde. Eram umas 11 horas da noite.
Cuidado. Às vezes o número é antecedido por expressões que indicam aproximações. Fique frio. O verbo continua o mesmo: Seriam quase duas horas quando ele chegou. São cerca de seis horas de voo. Eram mais ou menos três horas quando o presidente fez o anúncio.
Deu-se conta? As expressões de quantidade, medida, peso, valor, tempo — como é muito, é pouco, é suficiente, é caro, é barato — são invariáveis. Não ligam para o sujeito. Com elas, só o singular tem vez.
Veja exemplos: Dois mil reais é muito. Vinte quilos é suficiente. Dois minutos é muito para quem está com dor de dente. Vinte reais é menos do que o produto vale.
A expressão é que se chama expletiva. Significa que pode cair fora. Desprezada, não concorda com nada nem com ninguém Mantém-se invariável: As rosas (é que) são belas. Nós (é que) somos patriotas. Eles (é que) sabem a resposta.
É isso. Na língua como na vida, nem todos são iguais perante as regras. Alguns são mais iguais. É o caso do verbo ser. As três letrinhas nadam de braçadas nos privilégios.
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