A língua é um conjunto de possibilidades. Oferece um leque de opções. O falante escolhe esta ou aquela saída com olho na adequação. A seleção vai além do certo e do errado. Fixa-se no melhor para o contexto. É mais ou menos como se estivéssemos diante de um armário cheio de roupas. Que peça escolher? Depende da ocasião. Vou à piscina? Um biquíni vai bem. Vou a baile de gala nos salões do Itamaraty? Nada melhor que um smoking. Vou a entrevista na busca de emprego? Olho pro traje discreto.
Na vida social a adequação se impõe. Vou receber amigos muçulmanos para o almoço? Não posso servir feijoada porque os seguidores do Corão não comem carne de porco. A visita é diabética? Pega mal lhe oferecer macarronada ou sobremesas ricas em açúcar. O convidado é vegetariano? Nada de bicho, por favor. Abro alas pra cereais, verduras e legumes.
No universo linguístico a coisa funciona do mesmo jeitinho. Escolho palavras e estruturas que se adaptam melhor ao contexto. Vou escrever um horóscopo? Preciso de palavras genéricas, que falam, mas não dizem. Vou escrever uma ocorrência policial? Ops! A especificação se impõe. Meu texto versa sobre moda? Os estrangeirismos são bem-vindos porque o vocabulário da moda é internacional. Preciso apresentar petição ao juiz? Vem, juridiquês.
Vou participar de sala de bate-papo na internet? Preciso da velocidade e dos recursos da fala. Daí as abreviaturas e o apelo aos ícones emocionais. Quero mandar uma mensagem pelo celular? Só tenho direito a 140 toques. Tenho de economizar espaço. Os mesmos 140 toques são imposição do twitter. Mandar recados pelo microblog mais popular do mundo exige o pão-durismo do Tio Patinhas. Economizar espaço torna-se obsessão.
Ninguém é obrigado a entrar na onda das mídias eletrônicas. Se entrar, tem de se submeter ditadura. A mais importante: dizer muito com pouco. Como? O blog vem dando dicas. O post “Navegando nas possibilidades da língua (1)” conjugou o verbo escolher. Entre as possibilidades oferecidas, a opção deve recair sobre palavras curtas, abreviaturas, siglas, voz ativa. O “Navegando nas possibilidades da língua (2)” flexionou o verbo trocar. Locuções, verbos-ônibus, pronomes entraram na jogada. Hoje continuaremos as trocas. Vamos promover uma caçada aos quês e sês. Sem eles, a frase ganha concisão. Nós ganhamos espaço. Vamos lá?
1. Troque orações adjetivas pelo adjetivo
animal que se alimenta de carne = animal carnívoro
criança que não tem educação = criança mal-educada
homem que planta café = cafeicultor
pessoa que trabalha na agricultura = agricultor
2. Troque orações explicativas pelo nome
Brasília, que é a capital do Brasil, tem 2,5 milhões de habitantes.
Brasília, a capital do Brasil, tem 2,5 milhões de habitantes.
3. Troque orações por termos
Ninguém duvida de que a inflação esteja sob controle.
Ninguém duvida do controle da inflação.
A sociedade exige que o contraventor seja punido.
A sociedade exige a punição do contraventor.
4. Troque orações desenvolvidas por orações reduzidas
Depois que der as explicações, vou para casa.
Dadas as explicações, vou para casa.
Assim que terminar o curso, apresentarei a tese.
Terminado o curso, apresentarei a tese.
5. Troque perguntas indiretas por perguntas diretas
Gostaria de saber que pessoas você segue no twitter.
Quem você segue no twitter?
Por favor, me diga se você já almoçou.
Você já almoçou?
Resumo da opereta
Viu? As mídias modernas conjugam verbo pra lá de flexionado pelos moradores das Gerais. É economizar. Dizem as más línguas que o pai mineiro dá este conselho ao filho que se prepara pra dar uma saidinha de casa: “Meu filho, não saia. Se sair, não gaste. Se gastar, não pague. Se pagar, pague só a sua”.
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