Montado o quebra-cabeça

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José Cândido de Carvalho descansava no céu. Chegou Dercy. Língua solta, disse a ele que havia lido a nova edição do livro que fizera tanto sucesso. “Nova edição?”, perguntou. Curioso, deu uma espiadinha nas prateleiras das livrarias. Arrepiou-se. Depois, se indignou. O horror estava no título. Você consegue identificá-lo?

E daí?

Desconfiou do porquê? Viva! Por que, por quê, porque, porquê — são quatro caras e confusão geral. Estudantes, jornalistas, advogados, todos hesitam na hora de escrever uma ou outra forma. Muitos chutam. Mas, como a língua não é loteria, a Lei de Murphy entra em vigor. Se pode dar errado, dá.

Um tropeço e lá se vai a vaga na universidade, a promoção no trabalho, a chance do bom emprego e o descanso do falecido. Melhor não correr riscos. Afinal, desvendar o segredo da duplinha é fácil como andar pra frente.

Por que


Por que, separado e sem acento, tem dois empregos:

1. nas perguntas: Por que a leitura facilita a redação? Por que se lê tão pouco no Brasil? Por que há poucas livrarias em nosso pais?

2. nos enunciados em que é substituível por “a razão pela qual”: É bom saber por que (a razão pela qual) a leitura facilita a redação. Explique por que (a razão pela qual) se lê tão pouco no Brasil. Eis por que (a razão pela qual) há poucas livrarias no país — há poucos leitores.

Matou a charada? É nesse emprego que se encaixa o título do livro de José Cândido de Carvalho: Por que (a razão pela qual) Lulu Bergantim não atravessou o Rubicon.

Por quê


O separado com circunflexo só tem vez quando o quezinho for a última – a última mesmo – palavra da frase. Sabe por quê? Ele é átono. No fim do enunciado, torna-se tônico. O acento lhe dá a força: A leitura facilita a redação por quê? Lê-se tão pouco no Brasil por quê? Há poucas livrarias em nosso país e todos sabem por quê (a razão pela qual há poucas livrarias).

Porque


Juntinho como unha e carne, a dissílaba é conjunção causal ou explicativa: Os professores estimulam a leitura porque bons textos enriquecem o vocabulário. Há poucas livrarias no Brasil porque há poucos leitores. Leio muito porque quero escrever melhor.

Porquê


O porquê assim, com chapéu, deixa de ser conjunção. Torna-se substantivo. Para mudar de classe, precisa da companhia do artigo ou de pronome: Explicou o porquê da importância da leitura. Certos porquês quebram a cabeça da gente. Não sei responder a este porquê.

Resumo da opereta: não há por que temer os porquês. Quem domina o assunto sabe por quê.

Dad Squarisi

Publicado por
Dad Squarisi

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