Moro grande parte do tempo no exterior e volto regularmente ao Brasil. (Sou casada com diplomata). Em geral, há a cada retorno um ou mais modismos usados por grande parte da população e da imprensa escrita e falada. São, na maior parte das vezes, tentativas de falar certo e bonito, que empregam palavras ou construções gramaticais de forma errada no contexto.
Em 1993, por exemplo, peguei o início da mania do “quem deseja?” e do “quem gostaria?” ao atender uma chamada telefônica. Em 2002 ou 2003, piorou. Estava implantado o gerundismo. A partir daí, quase todos, em vez de verificar, “vão estar verificando”. Há também as epidemias nos textos escritos. Pelos textos que revisei ultimamente, já havia verificado a invasão do “possuir” e do “bastante”.
Segundo um professor meu, “possuir” tem conotação de posse e tem emprego específico. Sabemos que “bastante” significa suficiente, algo que basta. Foram essas a coqueluche irritante de minhas últimas férias no Brasil. Ninguém tem (devem achar o verbinho insignificante), todos possuem. E o “muito” desapareceu. Só se possui bastante. Por curiosidade, dei uma breve busca no Globo on-line e encontrei as seguintes pérolas: “Obviamente, fiquei bastante desapontado ao receber esta notícia.”, “…viu que outros passageiros se machucaram bastante”, “…referindo-se à área da Terra Meio, que estava bastante encoberta por nuvens”.
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