Figura de linguagem é assunto estudado na escola. Metáfora, hipérbole, sinédoque parecem ETs, sem vínculo com a vida. O que fazer? A meninada as decora. Faz a prova e… pronto. Passa. Adeus, para nunca mais, dizem rapazes e moças.
Puro engano. Os tropos não nos largam o pé. É o caso da metonímia. A greguinha faz as vezes de Bombril. Tem mil e uma utilidades. Com ela, a gente faz mágicas. Uma delas: toma a parte pelo todo. Brasília serve de exemplo.
A capital do Brasil hospeda os representantes dos três poderes. Executivo, Legislativo e Judiciário têm na cidade a sede federal. Daqui saem medidas que afetam o Brasil inteiro. E ecoam pelos quatro cantos do país.
Nos últimos tempos, as notícias ruins têm predominado nas manchetes. O Supremo manda taxar aposentados. O Planalto convive com ministros íntimos da corrupção. Deputados e senadores vendem a consciência em troca de mensalões e favores do mesmo naipe.
Esse pedacinho de Brasília dá passagem à metonímia. Os gabinetes carpetados da Esplanada passaram a significar insensibilidade, que rima com irracionalidade, que tem tudo a ver com a alienação da Ilha da Fantasia. Mensalão virou sinônimo de corrupção, que dá nome aos salários pagos aos brasilienses. Em outras palavras: a parte (o pedaço podre) tornou-se sinônimo do todo (o Distrito Federal). Há aí ignorância ou má-fé. Boa parte dos brasileiros não conhece a própria capital. Guia-se pelas imagens transmitidas pela tevê — plenários vazios, carros oficiais em lugares impróprios, avalanches de denúncias dos Lupis da vida.
Desconhece que Brasília é a cidade que mais lê no país, que ostenta a melhor qualidade de ensino, que tem o corpo docente mais qualificado das unidades da Federação, que exibe o melhor IDH nacional, que serve de exemplo pela civilização no trânsito, que zela pelo meio ambiente para manter o ar respirável, as áreas verdes intocadas e os jardins floridos.
A maior parte de ocupantes dos gabinetes carpetados vem de fora. São hóspedes que gaúchos, paulistas, paraenses encaminham pra cá por tempo determinado. Muitos fazem senhores estragos nos dois, três ou quatro anos que aqui permanecem. Não honram a casa dos anfitriões. (Nós temos moradores membros da mesma gangue. Mas essa é outra história.)
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