O debate do momento? É o empréstimo da Petrobras. A empresa pediu socorro à Caixa Econômica Federal. Recebeu U$S 2,02 bilhões. Precisava completar a soma destinada ao pagamento de impostos. Só tinha R$ 9 bilhões em caixa. O jeito foi dar um jeito. Estendeu o pires. Ops! O mercado se alvoroçou. A poderosa estaria mal das pernas?
Desde sempre se sabe que o melhor negócio do mundo é o petróleo bem-administrado. O segundo, o petróleo mal-administrado. Como a estatal não dispunha do dinheiro, a pulga se instalou atrás da orelha de confiados e desconfiados. A oposição não deixou por menos. Convidou o presidente José Sérgio Gabrielli pra depor no Congresso.
Os sufocos da maior empresa do Brasil trouxeram ao noticiário o verbo emprestar. Na conjugação, o trissílabo não dá problema. É regular como cantar, comprar ou trabalhar. Na regência, porém, a história muda de enredo. Há construções e construções. Umas recebem nota 10. Outras desmoralizam o falante e roubam pontos a torto e a direito.
Nota 10
1. Alguém empresta. Isto é, cede por algum tempo, gratuitamente ou não: O banco empresta dinheiro. A biblioteca empresta livros. Eu emprestei a casa da praia por dois meses. Não empreste carro, namorado ou escova de dentes.
2. Alguém empresta alguma coisa a alguém: A CEF emprestou R$ 2 bilhões à Petrobras. João Marcelo emprestou a bicicleta a Rafael. Você vai emprestar o DVD aos pesquisadores? Em clima de desconfiança, ninguém empresta nada a ninguém. Quem dá aos pobres empresta a Deus.
Nota zero
Reparou? Emprestar, na acepção de ceder por empréstimo, merece nota mil. Só empresta quem tem. Quem não tem não pode emprestar. Por isso, no sentido de pedir ou tomar emprestado, o emprestar cai fora. Não diga “emprestar de”. Em vez de “A Petrobras emprestou dinheiro da CEF”, dê passagem a esta construção: A Petrobras tomou dinheiro emprestado à CEF.
Mais exemplos? Ei-los: Ela pedia emprestados os jornais aos colegas. Você costuma tomar empréstimos bancários? Eu prefiro tomar emprestado dinheiro a amigos mesmo mediante pagamento de juros. Pediu emprestado o carro do irmão.
Duas classes
Emprestado joga em dois times. Um: pode ser particípio do verbo emprestar. Joga, então, no time de comprado, cantado, amado. O outro: pode, também, ser adjetivo. Como bonito, limpo e gostoso, concorda com o substantivo a que se refere.
O particípio forma os tempos compostos. No caso, aparece sempre na companhia dos auxiliares ter ou haver, que se flexionam em pessoa e número. O verbo principal não se altera nem a pedido dos deuses do Olimpo: eu tenho emprestado, ele tem emprestado, nós temos emprestado, eles têm emprestado; eu havia emprestado, ele havia emprestado, nós havíamos emprestado, eles haviam emprestado. E por aí vai.
O adjetivo concorda com o substantivo a que se refere: Você devolve os livros que toma emprestados? Você devolve o dinheiro que toma emprestado? Você devolve as camisetas que toma emprestadas? Peguei roupas emprestadas. João tomou carros emprestados.
Por falar em Petrobras…
Radiobrás, Portobrás, Eletrobrás são oxítonas terminadas em a seguidas de s. Daí o acento. É o caso também de sofás, cajás, estás. Vale a questão: Petrobras pertence ao mesmo time. Mas não exibe o grampinho. Por quê?
A resposta tem a ver com o sucesso da empresa. Quando nasceu, Petrobras era Petrobrás. Depois cresceu e apareceu. Ganhou o mundo. Decidiu, então, tirar o acento pra ficar mais parecida com o inglês. Na língua de Shakespeare, agudos e circunflexos não têm vez. Assim, a brasileirinha passaria por gringa. .
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