Segunda foi a vez de Dilma. Terça, de Aécio. Quinta, de Marina. A acriana tinha meia hora pra responder a perguntas. Telespectadores estavam duplamente atentos. Em primeiro lugar, pra entender melhor as propostas da candidata. Em segundo, pra confirmar uma bobeira. Em falas anteriores, ela teria trocado bolas linguísticas. Perda tomou a vez de perca. E…?
“É a infraestrutura que leva à perca de boa parte da produção”, disse ela. A turma se alvoroçou. Alguns davam nota 10 para o substantivo. Outros, zero. E daí? O jeito foi dar um jeito. Pedir ajuda ao Aurélio. Ops! Ele registra o substantivo perca com duas acepções. Uma: espécie de peixe. A outra: forma popular derivada do verbo perder: perda, prejuízo, dano.
O dicionário diz que Marina está correta. Por que a reação? A língua é como a mulher de César. A primeira-dama romana não só tinha de ser honesta. Tinha de parecer honesta. A língua não só tem de ser correta. Tem de parecer correta. A escola ensina que perca é forma do verbo perder (que eu perca, ele perca, nós percamos, eles percam). Perda é o substantivo (a perda do poder aquisitivo, as perdas na bolsa, perda de boa parte da produção).
Resumo da ópera: a forma está certa, mas parece errada. É a tal história da mulher de César.
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