Li, aqui no blog, seu artigo “Em que isso beneficia o pobre?” logo de manhã. Confesso que me deu uma certa tristeza que me acompanhou o dia inteiro. Eu já havia achado toda aquela cerimonia na ABL – bem como os anos de preliminares – uma grande e inútil papagaice do atraso e decidi esquecê-la. Afinal de contas, se Antonio e comodo não forem acentuados, isso significa que brasileiros e portugueses não saberão pronunciar Antônio e cômodo?
E se um brasileiro se casar com uma portuguesa, e o filho misturar os sotaques, como é que ele deveria acentuar essas palavras? Com uma mistura de ~, ^, ‘ e ‘? E se o filho do brasileiro com a portuguesa se casar com a filha de um afegão casado com uma italiana, como é que fica então? Dá para obrigar o filho deles a pronunciar Antonio e comodo do jeito que a academia quer? Eu, por exemplo, não faço a menor idéia das regras da acentuação. Claro que acentuo, mas só o faco por instinto ou imitação, nunca por conhecimento.
Você sempre enfatiza que a língua é dinâmica, contextual e cheia de possibilidades expressivas. Believe it or not, esse ensinamento é um grande estímulo para muitos que não sabem a gramática pegar a caneta e, mãos-à-obra, se comunicar – como é o meu caso. Por que engessar a língua? Você já pensou no que aconteceria se um acadêmico da academia de letras dos EUA sugerisse a unificação ortográfica do inglês falado e escrito na Inglaterra, nos EUA, na Austrália, na Índia, em Hong Kong, em Taiwan, na Favela do Pinto e no Brasil?
Hoje, quando li seu artigo, já havia me esquecido das duas tristezas, da tristeza do atraso e da tristeza dos dicionários e gramáticas. Tal qual um avestruz. O seu artigo foi uma porrada na minha cara.
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