Manhas da crase: de…a, da…à

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Dois pares formam 20-20. São duas dezenas no começo e duas no fim. A língua também tem seus casaizinhos. Fiéis, eles acreditam que, uma vez unidos, sempre unidos. Dois deles são pra lá de conhecidos. Trata-se das duplinhas de…a e da…à. Um a tem crase. O outro vem soltinho e feliz como pinto no lixo. Por quê?

A razão é uma só: mania de imitação. A língua copia a vida. Lá e cá existem os casais. O que acontece com um acontece com o outro. Desrespeitar o paralelismo é traição. Uma vez cometida, não dá outra. Entra em cena o verbo perder. Lá se vão amores, prestígio, promoções. Valha-nos, Deus!

O primeiro

De segunda a sexta.

De é preposição pura. A só pode ser preposição pura. Em ambas o artigo não tem vez: Trabalho de quarta a sexta. A farmácia faz entregas de segunda a sábado. Vejo tevê de domingo a domingo.

O segundo

Andei da rodoviária à quadra comercial.

Da é combinação da preposição de com o artigo a. O à vai atrás. O acento funciona como aliança no anular esquerdo. Indica o casamento da preposição a com o artigo a.

Veja exemplos: Trabalho da manhã à noite. Li da página 8 à página 12. O expediente é de segunda a sexta das 8h às 18h30. Estudamos das 14h às 18h.

Sexo

Atenção, gente fina. Às vezes, a preposição de vem casadinha com o artigo o. O sexo não muda a regra. O segundo par mantém a fidelidade: Viajei do Paraguai à França. Fui de carro do Rio à Paraíba. Corri do aeroporto à rodoviária.

Olho vivo

Há ocasiões em que um dos nomes dispensa o artigo. Aí, não dá outra. O casamento fica comprometido: Viajei da França a Portugal. Fui de Cuba à Alemanha.

Superdica

Como saber se o nome pede ou esnoba o artigo? Basta iniciar uma frase com ele. Veja:

Cuba é uma ilha da América Central. (Não: a Cuba)

Portugal vive período de grande prosperidade. (Não: o Portugal)

A Alemanha vai retirar as tropas do Iraque.

A França enfrenta manifestações dos coletes amarelos.

Traição

Misturar o par de um com o de outro gera deformações. São os cruzamentos. É como casar girafa com elefante. Já imaginou o pobre do filhote? Veja um exemplo do monstrinho:

Horário do expediente: de segunda a sábado, de 7h30 às 20h.

Reparou? O primeiro casalzinho (de…a) merece nota mil. O segundo cometeu traição. Juntou o parceiro de um par com o parceiro de outro. Xô! A forma bem-amada pela língua é esta:

Horário do expediente: de segunda a sábado, das 7h30 às 20h.

Dad Squarisi

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