Jorge Antunes Compositor, maestro, professor titular da UnB Está faltando um olhar sobre a comunidade dos povos de língua portuguesa. Existe uma mobilização canhestra, bitolada, discriminatória e totalmente carente de demofilia, que tenta congregar países lusófonos e que não busca agregar todos os povos lusófonos. Uma iniciativa voltada à integração cultural de todos os povos lusófonos foi implementada em Brasília há 9 anos. A Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional de Brasília esteve apinhada de gente na noite de 19 de abril de 1999. A superlotação do Teatro se justificava: o concerto marcava a abertura do ano de festejos dos 500 anos do Brasil. Sob encomenda do Decanato de Extensão da Universidade de Brasília, escrevi a composição musical Cantata dos Dez Povos. Era uma obra monumental, com 64 minutos de duração. O palco também estava apinhado de gente: a Orquestra do Teatro com 80 músicos, 150 cantores do Coro Lírico da Escola de Música e do Madrigal de Brasília, quatro cantores solistas e onze declamadores. Verificamos ausências inesperadas na platéia. Nenhum representante das Embaixadas dos sete países de língua portuguesa havia comparecido. Sim, eram sete as nações lusófonas. Timor Leste ainda não era um país. O mistério acerca das surpreendentes ausências só seria desvendado alguns dias depois. Era muito difícil para mim homenagear o chamado “descobrimento do Brasil”, por estar convencido de que o Brasil não fora descoberto. Ele havia sido invadido há 500 anos. Não havia acontecido um descobrimento. Em realidade foi um encobrimento que iniciou-se por estas bandas em 1500: um verdadeiro encobrimento cultural. Optei, então, por homenagear a língua portuguesa, importante elo de união entre os dez diferentes povos que se originaram da bela saga portuguesa da época das grandes navegações. Assim, utilizei textos de escritores de Portugal, Brasil, Macau, Goa, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Angola e Timor Leste. A UnB contava com estudantes africanos bolsistas, originários dos países lusófonos. Assim, os poemas de Agostinho Neto, Xanana Gusmão, Camilo Pessanha, Vasco Cabral, Marcelo da Veiga, Fernando Pessoa, e tantos outros, puderam ser ditos com vozes e inflexões enriquecidas pelos sotaques originais. Sob o ponto de vista estético a nova obra marcava a consolidação de uma nova linguagem musical, com melodias e harmonias sendo emolduradas por sonoridades contemporâneas. A audácia pluriestilística pretendia representar o entrelaçamento fraterno que haveria de, no futuro, ser construído pela grande comunidade lusófona espalhada nos quatro cantos do mundo. Para embelezar a festa de confraternização, eu e um representante do Decanato de Extensão da UnB havíamos feito, meses antes, uma peregrinação pelas Embaixadas dos sete países de língua portuguesa. Estava, aparentemente, garantida a presença, representativa e oficial, das nações amigas e irmãs. Um vazamento de informação veio, uma semana depois, esclarecer o mistério da ausência coletiva das representações diplomáticas: o concerto não homegeava apenas os países lusófonos. As autoridades haviam se sentido desconfortáveis, porque o concerto homenageava também três povos que não se constituíam como países: Timor Leste, Goa e Macau. Os governos brasileiro e português precisam urgentemente atentar para este problema. A língua portuguesa corre o risco de morrer à míngüa em Macau e em Goa. Foi a cidade chinesa de Macau que viu nascer os mais belos poemas de Camilo Pessanha. O poeta, em suas incursões simbolistas, soube desenvolver, graças à inspiração aditivada de ópio chinês, uma intensa musicalidade verbal que hoje é uma honra para o nosso idioma. O português é, ainda hoje, a língua oficial de Macau. Mas a total ausência de estratégias e o desinteresse dos Estados lusófonos decretarão, se nada for feito, a extinção do português naquela cidade chinesa. A omissão brasileira e o desinteresse português fazem com que o mesmo fenômeno possa vir a acontecer nos territórios da Índia portuguesa, em que é praticada nossa língua: Goa, Mamão, Diu, Dadrá e Nagar-Aveli. Para que a língua portuguesa possa continuar com os seus mais de 215 milhões de falantes nativos, e que continue a ser a quinta língua mais falada no mundo, é preciso que nossas autoridades abandonem a política de aproximação de paises lusófonos, para adotar a política de aproximação de povos lusófonos. Ideal seria que a primeira letra P da sigla CPLP deixasse de significar a palavra países e desse lugar à palavra povos. (Artigo publicado na editoria de Opinião do Correio Braziliense)
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