Como se diz na gíria, “tô irado”. Aprendi que os particípios regulares gastado, ganhado, pagado e pegado foram desbancados pelos irregulares gasto, ganho, pago e pego. Mas, com a outra vitória da Beija-Flor no desfile das escolas de samba do Rio, ouvi a torto e a direito que “ela tinha ganhado o carnaval”. Quem está certo? Por favor, socorra-me. Preciso de um calmante. (Wagner de Deus)
Por favor, fique frio. Acalme-se. A raiva cobra preço alto. Ora provoca infarto. Ora mata. Os quatro verbos citados não valem tanto. Sabe por quê? Eles não só são generosos. São também permissivos que só.
Ganhar, gastar, pagar e pegar têm dois particípios. Jogam, por isso, no time dos verbos abundantes. A regra manda usar os regulares, que são sempre os mais compridos, com os auxiliares ter e haver. Os irregulares, com ser e estar. Assim: tinha (havia) gastado, ganhado, pagado e pegado; foi (está) gasto, ganho, pago e pego.
Ocorre que o quarteto vai além. Permissivo, abre a guarda. Aceita as formas dissílabas com todos os auxiliares. A língua, aí, imitou a vida. Lá e cá impera a lei do menor esforço: tinha (havia) gasto, ganho, pago e pego; foi (está) gasto, ganho, pago e pego.
Lembre-se: os quatro devassos não têm nada contra o particípio grandão. Se você o preferir, fique com ele sem cerimônia. A língua moderna prefere a curtinha. Mas aceita a longa.
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