É um susto atrás do outro. Mães e pais estão com o cabelo em pé. Por quê? Os filhos não desgrudam do computador. Passam horas diante da tela. Usam língua própria: abreviaturas estranhas, palavras inventadas — tudo aos pedaços, sem começo nem fim, sem pé nem cabeça. Bicho vira bx. Você, vc. Beijo, bj. O que fazer?
Ler e escrever são habilidades. Nadar, correr e datilografar também. Para desenvolver-se, exigem treino. Michael Phelps não ganhou sete medalhas de ouro. Conquistou-as. Foram milhares de horas de braçadas, outras tantas de musculação e não menos de renúncias. Hoje, ele se exibe de frente, de costas, de lado. Faz malabarismos dentro d’água. Pode tudo.
A aquisição da leitura e da escrita passa por processo semelhante. Quando se alfabetiza, a criança entra no universo da língua escrita. No começo, lê com dificuldade e escreve com (muitos) tropeços. À medida que se familiariza com esses, zês, jotas e agás, os enganos diminuem. A tendência é sumirem.
Parece milagre. Pirralhinhos de 8-9 anos grafam hospital com h. Desenho, com s. Cachorro, com ch e dois erres. Como chegaram lá? Não foi com o estudo da etimologia. Nem com regras ou palmatórias. A chave do êxito se chama familiaridade. A criança vê a palavra. Fixa-a. E a reproduz. Daí a íntima relação entre a leitura e a escrita. Quanto mais se lê, melhor se escreve.
A língua é um conjunto de possibilidades. Com o tempo nos tornamos poliglotas no nosso idioma. Se estamos com a turma, usamos a gíria do grupo. Se na entrevista da seleção de emprego, outra. Se nos bate-papos da internet, mais uma. Todas têm hora e vez. Trocar as bolas? Dá o samba da língua doida.
Os bate-papos na internet têm código próprio. A velocidade é a lei. Na tela mágica, o analfabeto cibernético não tem vez. Quem domina as várias línguas da língua entra e sai sem problema. Mas quem engatinha na aprendizagem do básico perde o rumo. E daí? Proibir a meninada de teclar? É difícil. Melhor fazer um trato: a cada minuto diante da tela deve corresponder uma hora de leitura. A troca vale a pena.
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