Al Martin Dicionários não são manuais de boas maneiras. Estão aí para registrar os fatos da língua. Não cabe a eles dar lição de civilidade, que essa se aprende em casa. Na falta de berço, a escola deveria servir de anteparo e de ersatz para as deficiências da educação familiar. Aquele que passar por esses dois filtros, o familiar e o escolar, sem se impregnar de bons modos periga carregar sua grosseria pelo resto da vida. Não será, certo, de dicionários que receberá aulas de polidez. Altos dirigentes deste país já deram mostra de haver chegado lá apesar de terem gazeteado todas as aulas de urbanidade. Em casos assim, não há no mundo dicionário capaz de lhe vir em auxílio. Uma colega comentarista chamou-me a atenção para a chamada de pé de página que o dicionário Priberam dá para o vocábulo galego. É fato, os diversos usos desse gentílico — nem sempre charmosos, é verdade — estão lá. E deles não há como escapar. Ao contrário, seria inquietante que dicionários se pusessem a ceder a pressões de grupos diversos e a escamotear acepções seculares. Ora, sejamos coerentes: se dicionários continuam, ainda hoje, a registrar palavras como polo (= pelo) e pera (=para), caídas em desuso desde os tempos da carochinha, não há razão para deixarem de arrolar palavras que, embora deselegantes, ainda vivem. Fazer julgamento de valor não é atribuição de dicionaristas. Encobrir, dissimular ou ocultar a verdade nunca foi um bom expediente. Toda mentira tem perna curta e acaba desmascarada. Aí, sim, o escândalo pode ser bem mais estrondoso. Seguem abaixo algumas acepções um tanto agressivas. Foram todas extraídas do Houaiss e se referem a palavras de uso corrente no Brasil. TURCO: ambulante que vende a prestações PARAÍBA: mulher de aspecto e comportamento masculinos CIGANO: que ou aquele que faz barganha, que é esperto ao negociar JUDEU: pessoa usurária CHINA: restaurante muito barato, pouco asseado (originalmente os mantidos por chineses) CABEÇA-CHATA: indivíduo que nasceu no Nordeste do Brasil, esp. no estado do Ceará CARCAMANO: indivíduo nascido na Itália; macarrone Regionalismo Maranhão: indivíduo de origem árabe Que ninguém se desespere! O vocabulário de um povo responde às necessidades de comunicação do momento. Essas acepções hoje vistas como incorretas vão desaparecendo, pouco a pouco, da fala brasileira. Não há mais turcos nem mascates percorrendo estradas poeirentas com sua mala de bugigangas. Restaurantes chineses têm hoje reputação de asseio aceitável. Carcamano é termo praticamente desconhecido de quem tem menos de 50 anos. Não há necessidade de brutalizar dicionaristas nem de passar a tesoura em acepções como se fazia nos tempos sombrios da ditadura. Mais alguns aninhos, e esses termos serão cobertos pela poeira do tempo. Vão para a mesma gaveta onde repousam hoje polos e peras.
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