José Horta Manzano
Quando terá começado essa moda do politicamente correto? Dez anos atrás? Vinte, talvez? Terá sido, como costumam ser os modismos, importada dos EUA? Durante algum tempo imaginei que assim fosse. Até que…
… até que descobri que, pelo menos nessa área, nosso país tinha dado prova de pioneirismo. Sim, senhores! Não acreditam? Pois garanto-lhes que não é chiste nem zombaria. Cinquenta anos atrás preconceito e desconfiança étnico-raciais podiam habitar o foro íntimo de cada um, mas já não figuravam em nenhuma lei por aqui desde os tempos da Lei Áurea. Não obstante, as autoridades brasileiras foram bem mais além. Audaciosamente inventaram um politicamente correto avant la lettre. Tosco, restrito, mas assim mesmo pioneiro.
Um pequeno estremecimento já havia ocorrido durante o governo JK, nos anos 1950, quando o mineiro Clóvis Salgado dirigia o Ministério da Educação. Mas o petardo arrebentou mesmo em 1961, já no governo Jânio Quadros, um presidente estranho e ousado. No mês de julho, o Planalto determinou que o Dicionário prático da língua portuguesa, organizado pelo lexicólogo paulista Francisco da Silveira Bueno e adotado no ensino público, fosse expurgado — sim, a palavra usada foi esta: expurgado — de “conceitos que não podem ser levados em país cristão e democrático à mocidade, sem o risco de inculcar prevenções de raça ou religião”. (sic)
Entre outras, deveriam ser banidas palavras como: judeu, judas, negro, panamá, jesuíta, favela, judiação. Na origem da despoluição do dicionário, estava o fato de todos esses termos terem, além do significado próprio, uma conotação pejorativa.
A intrepidez presidencial fez correr muita tinta e causou rebuliço, mas acabou gorando. De qualquer maneira, Jânio renunciaria à presidência no mês seguinte, num gesto cujas razões permanecem até hoje absconsas. Mas essa já é uma outra história.
As palavras incriminadas continuam a figurar nos dicionários atuais exatamente com o mesmo sentido que tinham 50 anos atrás. E com as mesmas conotações pejorativas, sejam elas politicamente corretas ou não. Está feita a prova de que correção política não se impõe por decreto.
A língua é pra lá de sociável. Conversa sem se cansar. E, no vai e…
Porcentagem joga no time dos partitivos como grupo, parte, a maior parte. Aí, a concordância…
O nome do mês tem origem pra lá de especial. O pai dele é nada…
Terremoto tem duas partes. Uma: terra. A outra: moto. As quatro letras querem dizer movimento.…
As línguas adoram bater papo. Umas influenciam as outras. A questão ficou tão banalizada que…
Nome de tribos indígenas não tem pedigree. Escreve-se com inicial minúscula (os tupis, os guaranis,…