Al Martin Jornais de ontem estamparam a notícia surpreendente de que um deputado, eleito pelo Partido Comunista, pedia a proibição de exibição de um filme. Proibição! O parlamentar dirigia sua fúria contra uma espécie de fábula envolvendo um urso de pelúcia consumidor de drogas. O digno representante do povo nem chegou a reclamar um limite de idade mais rigoroso para espectadores. Não tergiversou e foi direto ao ponto: o filme não lhe convém, portanto, não pode convir a ninguém. Que seja banido! Certos cidadãos são incorrigíveis. Muitos continuam acreditando que o que não é bom para eles não pode, evidentemente, ser bom para os demais. Alguém precisa urgentemente explicar ao deputado que cinema não é programa de televisão. Se a tevê entra em casa e despeja seu conteúdo sem pedir licença, só vai ao cinema quem quer. A tevê oferece dezenas de programas gratuitos a quem tiver a paciência de assistir-lhes. (Quem dispuser de uma parabólica pode até escolher entre milhares de emissões.) Já assistir a um filme no cinema obedece a ritual assaz complicado. Para usufruir de uma projeção cinematográfica, o cidadão tem de se vestir, sair de casa, dirigir-se à sala de espetáculos, fazer fila, comprar e pagar a entrada, provar que tem a idade mínima exigida, procurar um lugar. Tem de ser estoico às vezes: aguentar a conversa dos vizinhos de trás, o mau cheiro do que está à direita, o irritante trim-trim de um celular próximo, o incessante movimento de cabeça do que está sentado justo à sua frente. Em resumo: vai ao cinema quem quer. E já vai sabendo qual é o teor do filme. Não é de hoje que deputados e senadores tentam infantilizar seus representados. Alguns acreditam-se imbuídos da missão de decidir em nome do povão. É verdade que, no fundo, estão lá para isso. Mas o bom senso impõe limites a tudo. Proibir um filme aqui, outro acolá não é da competência de parlamentares: não passa de censura explícita. Mas deixa estar: o efeito bumerangue vai funcionar desta vez. O deputado em questão vai certamente alcançar um resultado exatamente oposto ao que pretendia: o auê que se levantou em torno do assunto periga alavancar o número de espectadores. Só para terminar, um detalhe picante. A fita já é proibida para menores de 16 anos. O deputado mencionado assistiu ao filme acompanhado de seu filho, um pré-adolescente de… 11 anos. O leitor deve estar sentindo que algo nessa história parece não estar encaixando bem. Estou sentindo a mesma coisa. Assistiram onde? Projeção privada? O deputado subornou o porteiro? Deu carteirada? Faltou contar o fim da história. Tudo indica que, mais uma vez, somos reféns de um perverso jogo de faça-o-que-eu-digo-mas-não-o-que-eu-faço.
A língua é pra lá de sociável. Conversa sem se cansar. E, no vai e…
Porcentagem joga no time dos partitivos como grupo, parte, a maior parte. Aí, a concordância…
O nome do mês tem origem pra lá de especial. O pai dele é nada…
Terremoto tem duas partes. Uma: terra. A outra: moto. As quatro letras querem dizer movimento.…
As línguas adoram bater papo. Umas influenciam as outras. A questão ficou tão banalizada que…
Nome de tribos indígenas não tem pedigree. Escreve-se com inicial minúscula (os tupis, os guaranis,…