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Sempre fico na dúvida com alguns homônimos. Alguma dica para que eu não esqueça mais quando devo usar sessão, seção e cessão? (Thomás Caixeta)

Thomás, a dúvida é sua e de meio mundo. Vamos acabar com ela? Guarde estas dicas:

Cessão, seção e sessão jogam no time dos homófonos. Têm a mesma pronúncia, mas grafia e sentido diferentes. Por isso causam desentendimentos, dores de cabeça e não poucos vexames. Vamos pôr ponto final na farra?

Cessão é substantivo derivado do verbo ceder. Ambos começam com a mesma letra: O cartório registra a cessão dos bens. A cessão de direitos é assunto complicado. O caso trata da cessão de propriedade.

Seção é a parte de um todo. Quer dizer divisão. No supermercado, há a seção de frutas, a seção de material de limpeza, a seção de bebidas. Na loja, a seção de roupas infantis, a seção de roupas femininas, a seção de roupas masculinas. Na farmácia, a seção de cosméticos e a seção de remédios.

Sessão é o todo. Dá nome ao tempo que dura uma reunião, um espetáculo ou um trabalho: sessão de cinema, sessão do Congresso, sessão de terapia.

Dica: o todo é maior que a parte. Por isso, sessão tem seis letras; seção, cinco.  ***

Como diferenciar oração sem sujeito e sujeito indeterminado? (Leandro Lima Valença)

Leandro, se você desvendar o segredo de um, o outro fica fácil, fácil. Tão fácil quanto tirar chupeta de bebê. Vamos lá?

As orações sem sujeito são construídas com verbos muito especiais. Eles, de uma forma ou de outra, têm relação com o tempo. Veja:

verbos que indicam fenômenos da natureza (chover, nevar, relampejar, amanhecer, anoitecer): Chove muito no verão. No Brasil, raramente neva. Relampejou ontem à noite? No horário de verão, amanhece tarde em Brasília. Puxa! Já anoiteceu?

verbos ser, fazer e haver quando indicam contagem de tempo: São duas horas. Faz dois anos que visitei a França. Cheguei há cinco horas.

Verbo haver no sentido de existir ou ocorrer: Há (existem) duas pessoas na sala. Durante a manifestação, houve (ocorreram) vários confrontos com a polícia.

Olho vivo, Leandro. Os verbos impessoais podem se tornar pessoais. Basta ganharem sujeito. Aí, perdem o privilégio. Têm de concordar com o sujeito. Quer ver? Choveram aplausos depois do discurso (suj. aplausos). Hoje amanheci cheia de disposição (suj. eu). Paulo fez 20 anos (suj. Paulo).

O sujeito indeterminado joga em outro time. No caso, alguém pratica a ação. Mas, por conveniência ou ignorância, ele não é referido. Trata-se de ótimo recurso pra fofocas. Observe o diálogo travado entre Luís e Maria.

Maria diz: — Luís, falaram mal de você.

— Quem falou?

— Ah, falaram.

Viu? Maria sabe quem andou manchando a reputação do Luís. Mas contou o milagre sem citar o santo. Como? Recorreu à 3ª pessoa do plural.

O pronome se também se presta pra indeterminar o sujeito — mas só com verbos intransitivos ou transitivos indiretos: Come-se bem em Brasília (intransitivo). Dorme-se mal no calor (intransitivo). Precisa-se de pedreiros (transitivo indireto).

Os transitivos diretos acompanhados do se formam a voz passiva sintética. Têm sujeito e precisam concordar com ele: Vende-se esta casa. Vendem-se todas as casas da rua. Conserta-se carro. Consertam-se carros. Corrigiu-se o erro. Corrigiram-se os erros.  ***

Quando e como posso usar travessões para destacar uma frase importante?

(Ana Luísa Lopes)

O travessão (—) é muito versátil. Como Bom Bril, tem mil e uma utilidades. Entre elas, destaca um termo opaco, escondido. Dá realce ao sem-graça. No caso, substitui a vírgula ou os dois pontos. Compare:

Lula conseguiu, até, a adesão dos adversários. Lula conseguiu — até — a adesão dos adversários.   Brasília, a capital do Brasil, vai completar 50 anos. Brasília — a capital do Brasil — vai completar 50 anos. Eis o grande vencedor: o filme que faturou 300 milhões de dólares. Eis o grande vencedor — o filme que faturou R$ 300 milhões.

O estado de São Paulo, o mais afetado pelas chuvas, precisa de obras de infraestrutura. O estado de São Paulo — o mais afetado pelas chuvas — precisa de obras de infraestrutura.   Usa-se travessão com vírgula? Só num caso. Se o segundo travessão coincidir com a vírgula:

Depois da vitória do governista — com mais de 50% dos votos —, o padrinho sentiu-se forte como Tarzã.

Viu? Sem o travessão, só haveria a vírgula final:

Depois da vitória do governista com mais de 50% dos votos, o padrinho sentiu-se forte como Tarzã.

Quando saiu de casa — lá pela meia-noite —, deixou a família reunida. (Quando saiu de casa lá pela meia noite, deixou a família reunida.)

Deu para entender? O casamento da vírgula com o travessão é raro como viúvo na praça. Não confunda. No caso em que podem aparecer duas vírgulas em vez dos dois travessões, a vírgula não tem vez:

Redigir — na definição do Aurélio — é escrever com ordem e método. (Redigir, na definição do Aurélio, é escrever com ordem e método.)

Use. Mas não abuse. Coloque apenas dois travessões no mesmo parágrafo. Mais que isso desorienta. Deixa o leitor confuso como cego em tiroteio.    

Dad Squarisi

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