Este, esse ou aquele
Walkíria Lanna escreve: “Este, esse ou aquele? Isto, isso ou aquilo? Que rolo! Jornalistas, professores, estudantes, advogados, todos se confundem na hora de empregar os demonstrativos. Ariscos, os pronomes não se deixam captar. Quando usar um? Quando é a vez do outro? O pior é que o papel deles é bem definido — indicam situação no espaço, situação no tempo e situação no texto. Que tal jogar luz o tema?” Vamos lá.Leitor manda.
Pessoas do discurso
Para dominar os demonstrativos, lembremos as pessoas do discurso. Discurso, aí, significa conversa. As pessoas do discurso são as que tomam parte em um bate-papo. Para haver diálogo, são necessárias três pessoas. Algumas interessantes, outras nem tanto. Uma fala (1ª pessoa), outra escuta (2ª pessoa) e o assunto, que é a pessoa de que se fala (3ª).
Imagine que Rafael telefone para João e lhe pergunte se vai ao cinema. No caso, Rafael fala. É a 1ª pessoa. João escuta. É a 2ª. Do que eles falam? Da ida ao cinema. É a 3ª.
Situação no espaço
Este — diz que o objeto está perto da pessoa que fala (eu, nós). Pode ser reforçado pelo advérbio aqui: esta sala (a sala onde a pessoa que fala ou escreve está); esta revista aqui (a revista que tenho em mão). Esta carta (a carta que está comigo).
Esse — diz que o objeto está perto da pessoa com quem se fala (você, tu). Pode ser acompanhado pelo advérbio aí: essa sala (a sala onde está a pessoa com quem falamos ou a quem escrevemos), esse livro aí (o livro está perto da pessoa com quem falamos), essa instituição (a instituição em que o leitor está).
Aquele — diz que o objeto está longe da pessoa que fala e da pessoa com quem se fala: aquele quadro lá (o quadro está longe das duas pessoas), aquele cartaz, aquela torre.
Situação no tempo
Este — indica tempo presente: esta semana (a semana em curso), este mês (mês em curso), este ano (ano em curso).
Esse / aquele — exprime tempo passado (esse: passado próximo; aquele: passado remoto): Estive em Granada em 1992. Nesse (naquele) ano, visitei toda a Andaluzia.
Eis um nó. Como saber se o passado é próximo ou remoto? Depende de cada um. O tempo é psicológico. Uma hora com dor de dente é uma eternidade. Com o amado, voa.
Situação no texto
Quem escreve enfrenta desafios. Um deles: situar o leitor. Dizer-lhe se a pessoa, o fato ou a frase foi referida no texto. Ou, ao contrário, vai ser referida. É o 3º emprego do demonstrativo. E, cá entre nós, o que oferece mais dificuldade. Mas, bem entendido, torna-se fácil como tirar pirulito de criança.
Este — olha pra frente. Anuncia o que será referido em seguida:
Fernando Pessoa escreveu este verso: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.
Reparou? O verso é anunciado: “escreveu este verso”. Depois, expresso: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.
Esse — olha pra trás. O fato é referido antes; depois, retomado:
“Tudo vale a pena se a alma não é pequena.” Esse verso figura no livro Mensagem, de Fernando Pessoa.
Iguaizinhas
As mesmas regras valem para o isto, isso, aquilo.
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