Este, esse, aquele — eis a questão

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A capa da Veja dá nó nos miolos da moçada. Leitores passam pela banca, leem a manchete e se perguntam: “Está correta?” Nove cartas de baralho estão expostas num retângulo. Em cada uma, a foto de um candidato ao Palácio do Planalto. Embaixo, a questão: “Quem ganha esse jogo”? O xis do quebra-cabeça é o emprego dos demonstrativos esse. Muitos pensam que deveria ser este. E daí?

A resposta

Os pronomes este e esse confundem gregos, romanos e troianos. Ariscos, não se deixam captar. Quando empregar um? Quando é a vez do outro? O melhor: o papel deles é bem definido. Eles são parecidos, mas não iguais. Distinguir-lhes o emprego pega bem como dar bom-dia no elevador, usar cinto de segurança, respeitar a ordem da fila.

Pessoas da conversa

Para entender os pronomes demonstrativos, uma condição se impõe — lembrar-se das pessoas do discurso. Discurso, aí, significa conversa. As pessoas do discurso são as que tomam parte em uma conversa.

Para haver conversa, são necessárias três pessoas. Algumas interessantes, outras nem tanto. Quem são elas? Uma fala (1ª pessoa), uma escuta (2ª pessoa) e o assunto, que é a pessoa de que se fala (3a).

Imagine que Maria telefone para Célia e lhe pergunte se viu o filme E o vento levou. No caso, Maria fala. É a 1a pessoa. Célia escuta. É a 2a. Do que eles falam? Do filme. É a 3a.

Lugar

Os pronomes demonstrativos são versáteis. Têm três empregos:

1. indicam situação no espaço:

Este: diz que o objeto está perto da pessoa que fala (eu, nós): esta sala (a sala em que a pessoa que fala ou escreve está); este livro (o livro que temos em mão)

Esse: informa que o objeto está perto da pessoa com quem se fala (você, tu): essa sala (a sala onde está a pessoa com quem falamos ou a quem escrevemos), essas bolsas (as bolsas estão perto da pessoa com quem falamos seja oral, seja por escrito).

Aquele: anuncia que o objeto está longe da pessoa que fala e da pessoa com quem se fala: aquele quadro (o quadro está longe das duas pessoas).

Tempo

2. Indicam situação no tempo:

Este: tempo presente: esta semana (a semana em curso), este mês (abril), este ano (2018)

Esse / aquele: tempo passado (esse: passado próximo; aquele: passado remoto): Estive em Portugal em 1992. Nesse (naquele) ano, visitei todo o país.

Superdica

Eis um nó. Como saber se o passado é próximo ou remoto? Depende de cada um. O tempo é psicológico. Uma hora com dor de dente é uma eternidade. Se for à noite, nem se fala. São duas eternidades.

Texto

3. Indicam situação no texto (é o caso que oferece maior dificuldade):

Este: exprime referência posterior (anuncia-se o fato que será referido depois): O presidente  disse esta frase: “’Nossa política não é fazer de conta que podemos crescer”.

Reparou? A frase é anunciada: “disse esta frase”. Depois, expressa: “Nossa política não é fazer de conta que podemos crescer”.

Veja outro exemplo: O comentarista fez esta pergunta: “Bolsonaro, mito ou blefe?” (a pergunta é anunciada: “fez esta pergunta”, depois, formulada).

Esse: referência posterior (o fato é referido antes; depois, retomado):

Nossa política não é fazer de conta que podemos crescer.” Essa frase foi dita pelo presidente da República.

Bolsonaro, mito ou blefe?” O artigo que responde a essa pergunta está transcrito na edição de hoje do jornal.

Superdica

Ao indicar situação no texto, siga este conselho. Na dúvida, use esse. Você tem 90% de chance de acertar.

A capa da revista

E daí? A capa da Veja se encaixa nesse caso. Primeiro, apresenta as cartas. Depois, formula a questão. Nota 10.

Dad Squarisi

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