A palavra da moda? É transição. Presidente e governadores eleitos se preparam pra fazer bonito nos próximos quatro anos. Os desafios são muitos. O tempo, curto. Como chegar lá? Com a palavra, a equipe de transição. Homens e mulheres escolhidos a dedo darão a resposta. Traçarão o rumo pra passar deste para o próximo governo.
Transição tem vasta família. Entre os membros ilustres, sobressaem trânsito, transitivo, transeunte, transitório. Todos têm um significado comum — passagem. Vale lembrar: não é só a política que se preocupa com a ponte que permite ir de um lado para o outro. A língua também cuida do assunto. Mas dá-lhe nome diferente. É coesão. (A coluna já falou no assunto. A pedido, volta a ele.) Time da língua
A coesão está presente na morfologia, na sintaxe, nas figuras de linguagem. Ao estudar substantivos, verbos, pronomes, conjunções, preposições, coordenação, subordinação, etc. e tal, indiretamente estudamos coesão. Eles oferecem recursos pra ligar palavras, ligar períodos, ligar parágrafos. Em suma: juntar partes soltas em unidades coerentes.
Anel e ouro são duas palavras que não se conhecem nem de elevador. Mas formam unidade com a ajuda da preposição de: anel de ouro.
Cozinho, estamos sem empregada. Que relação existe entre enunciados assim independentes? A conjunção se encarrega de pôr os pontos nos ii. Ela pode indicar causa (cozinho porque estamos sem empregada). Pode indicar tempo (cozinho quando estamos sem empregada). Pode indicar duração (cozinho enquanto estamos sem empregada). Pode indicar condição (cozinho se estamos sem empregada).
Pronomes exercem duplo papel. Além de auxiliar a coesão, contribuem para a elegância. Como? Evitam repetições. Veja:
Dilma e Serra disputaram a Presidência da República. Este, pelo PSDB; aquela, pelo PT. (Este substitui Serra; aquela, Dilma.)
Oscar Niemeyer se casou aos 99 anos. Ele e a noiva se conheceram anos antes.
Por falar em repetição…
Nem toda repetição é má. A estilística dá liga e charme ao texto. É o caso deste trecho de Barack Obama:
Sim, nós podemos. Nós podemos recuperar a economia do país. Nós podemos legar uma pátria melhor pra nossos filhos e netos. Nós podemos respeitar os direitos humanos. Nós podemos zelar pelo meio ambiente. Nós podemos construir um mundo mais justo e democrático. Sim, nós podemos. De saída
O entrelaçamento das ideias se dá por meio de vários mecanismos. Outro é a manutenção do tema. Ou seja: a perseguição do tema sem desvios. É a tal história: quem se ajoelha tem de rezar. Veja exemplo de parágrafo do livro Sonhos de Einsten, de Alan Lightma:
Minúsculos sons da cidade flutuam pela sala. Uma garrafa de leite tilinta contra uma pedra. Um toldo é esticado em uma loja. Uma carroça de verduras transita lentamente por uma rua. Um homem e uma mulher sussurram em um apartamento próximo.
Que responsabilidade! O tópico frasal (1ª frase) amarrou as idéias. Sem ele, os exemplos de sons da cidade ficariam sem elo. O leitor não saberia aonde as frases querem chegar. Em suma: um amontoado de ideias e nenhum recado. Texto e equipe
Imagine a situação. Com carta branca, Mano Menezes forma um time com os melhores jogadores do mundo. Todos do nível de Cristiano Ronaldo, Kaká, Messi, Niesta, Neymar. Confiante no talento individual, põe a equipe em campo antes de definir a posição e movimentação de cada um pra atingir o objetivo. Qual? O gol, claro.
Sem plano que as oriente, as criaturas não formam conjunto. E, claro, não se entendem. Correm sem rumo, chutam a esmo, estranham a bola. São 11 Pelés transformados em 11 patetas. O resultado? Fiasco nota 10.
A imagem vale para a redação. Belas ideias, belas palavras e belas frases não resultam necessariamente em bom texto. Pra chegar à unidade de composição, elas precisam se articular — entrosar-se com clareza, harmonia e coerência. Em bom português: as palavras têm de conversar pra formar períodos. Os períodos têm de conversar pra formar parágrafos. Os parágrafos têm de conversar pra formar o texto. O bate-papo tem nome. Chama-se coesão textual.
A língua é pra lá de sociável. Conversa sem se cansar. E, no vai e…
Porcentagem joga no time dos partitivos como grupo, parte, a maior parte. Aí, a concordância…
O nome do mês tem origem pra lá de especial. O pai dele é nada…
Terremoto tem duas partes. Uma: terra. A outra: moto. As quatro letras querem dizer movimento.…
As línguas adoram bater papo. Umas influenciam as outras. A questão ficou tão banalizada que…
Nome de tribos indígenas não tem pedigree. Escreve-se com inicial minúscula (os tupis, os guaranis,…