Assusta, mas não surpreende o anúncio de que 529 mil estudantes tiraram zero na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Maus desempenhos têm se sucedido ano após ano. A diferença é que o mal se agrava. Em 2013, 106 mil estudantes não pontuaram, cinco vezes menos que na edição de 2014.
Os números do Enem nada mais são do que o retrato da degradação do ensino ao longo dos anos. Apesar de o diagnóstico ser amplamente conhecido, não se adota nenhuma medida eficaz para evitar o avanço da doença. Esperar resultado diferente com o mesmo jogo e as mesmas regras é acreditar em milagre ou em Papai Noel.
Da engrenagem que compõe o sistema de ensino, o professor ganha relevo. Dele depende não só o encaminhamento da aula mas também a seleção do conteúdo, a escolha do livro didático e o preparo dos recursos necessários à aprendizagem. Aí reside a maior tragédia da tragédia em que se transformou a educação nacional.
Décadas de negligência tornaram o magistério carreira de segunda classe. Os talentos que sobressaem no ensino médio fogem dos cursos de letras, história, geografia, matemática. Com raras exceções, só se candidata a uma vaga nessas especialidades quem fracassa nas demais. A demanda diminui a cada semestre.
Não é outra a razão por que universidades de norte a sul do país anunciaram o fechamento das faculdades que preparam docentes. Algumas mantêm apenas o ensino a distância. Resultado: faltam professores. Escolas passam meses e meses sem oferecer disciplinas das áreas biológicas ou exatas por não conseguirem atrair interessados nas vagas.
A dificuldade não se restringe às escolas públicas. Atinge também as particulares. O problema exige medidas urgentes e sérias sob pena de comprometer — ainda mais — o futuro nacional. Profissional incapaz de entender um manual de instrução ou de se expressar oral e por escrito com correção e clareza não tem vez no mercado de trabalho. Nem o país tem vez no disputado clube globalizado.
Impõe-se atrair as melhores inteligências para o magistério. O ímã vai além de salário similar ou superior ao pago às mais promissoras carreiras de nível superior. Passa, necessariamente, por plano de carreira que estimule a constante qualificação e premie resultados. Sem encarar com firmeza a questão, continuaremos o jogo do faz de conta.
É o caso do exame on-line anunciado pelo ministro da Educação. Fazer o teste no papel ou na tela equivale a substituir o livro pelo tablet. Com os mesmos professores, mesmos alunos, mesmo ensino, mesmo material didático, atualiza-se a frase de Albert Einstein. “Loucura”, disse o criador da teoria da relatividade, “é fazer tudo do mesmo jeito e esperar resultado diferente.”
(Editorial do Correio Braziliense de hoje)
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