Era uma vez um comerciante do mercado público de Porto Alegre. Ele vendia sardinhas, dourados, tambaquis, pirarucus e surubins. O negócio prosperava a olhos vistos.
Certo dia, cheio de entusiasmo, o gaúcho resolveu inovar. Mandou afixar um enorme cartaz com os dizeres “Hoje vendemos peixe fresco”. Olhou de longe. Gostou do resultado. Orgulhoso, perguntou ao cliente:
— O que você acha da novidade?
— É, está boa. Mas me diga uma coisa: você vende peixe velho? Não? então para que o fresco?
Apagou o adjetivo. Ficou “Hoje vendemos peixe”.
— E agora?, indagou interessado.
— Para que o hoje? Hoje é hoje.
Restou “Vendemos peixe”.
— Por acaso você dá peixe? Não? O vendemos sobra.
No final, o vendedor tirou o cartaz. Quem chega vê o peixe. Não precisa de anúncio.
O que a história do peixeiro tem a ver conosco? Ela ensina uma lição. Quem escreve tem que ser sovina. Economizar palavras poupa tempo, espaço e… a paciência do leitor. Por isso, livre-se dos excessos. Como?
Elimine palavras ou expressões desnecessárias: em vez de neste momento nós acreditamos, diga acreditamos. Em lugar de travar uma discussão, escreva discutir; fazer uma viagem, viajar; pôr moedas em circulação, emitir moeda.
Mais: troque atos de natureza sentimental por atos sentimentais; leis de âmbito federal por lei federal; curso em nível de pós-graduação por curso de pós-graduação; doença de natureza sexual por doença sexual. E por aí vai.
Resumo da opereta: cultivar a economia verbal é o primeiro passo para chegar ao estilo enxuto. Cada palavra, cada frase, cada parágrafo têm que estar impregnados de sentido. Encher lingüiça já era.
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