Empurrar com a barriga

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 DAD SQUARISI // dadsquarisi.df@diariosassociados.com.br

Mexer na poupança? Ops! Provoca calafrios só de pensar. O assunto lembra o confisco collorido. Por isso o governo o deixou em banho-maria. Foi pior. A oposição tirou proveito do vacilo. Espalhou pânico microfones afora. Finalmente a equipe econômica se manifestou. Manteve inalteradas as regras para até R$ 50 mil na caderneta. Aplicações acima desse teto serão taxadas. Foi a forma encontrada para que os grandes investidores não abandonem os fundos na busca dos rendimentos cada vez mais atraentes da poupança. Resolvido o problema? Nem pensar.

O governo deixou para amanhã o que podia fazer hoje. Transferiu o abacaxi para o próximo inquilino do Planalto. Não tocou no ponto nevrálgico da poupança. Trata-se da indexação. Em tempos de inflação baixa e juros em queda, aplicações financeiras não podem ser indexadas. A poupança é. Haja o que houver, o dinheirinho renderá, pelo menos, 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial (TR) — livre de impostos.

Um problema: a poupança financia a casa própria. Se a Selic continuar a cair como tudo indica, os juros cobrados para bancar moradias ficarão comparativamente altos. Outro problema: o governo precisa manter os fundos de renda fixa atraentes. Eles compram os títulos da dívida pública. Se houver fuga de investidores dessas carteiras, o Tesouro terá dificuldades de resgatar os papéis nas mãos do mercado. As consequências, como diz o conselheiro Acácio, vêm depois: aumento do déficit público, desorganização das contas do Estado e renascimento da inflação.

A tributação das contas gordinhas poderá atenuar ou eliminar a complicação até o fim do mandato. E depois? Começa tudo de novo. Que canseira! Mais uma prova da nossa requintada arte de empurrar com a barriga. Ela vem de longe. A reforma agrária espera vez desde os tempos de Pedro Álvares Cabral. As reformas política, administrativa e tributária não têm pressa. Arrastam-se há décadas. A poupança lhes fará companhia.

(artigo publicado em Opiniao do Correio Braziliense)

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