Emoções em alto-mar

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DAD SQUARISI // dadsquarisi.df@dabr.com.br   Viajar é sinônimo de mudança? Antes, com certeza, era. A saída funcionava como intervalo. Afastava parentes, amigos, colegas. Deixava problemas pra lá. Estimulava o experimentar de comidas e temperos. Contatos inesperados implicavam novos assuntos, novas amizades, novos riscos. Em suma: saía-se da zona de conforto para entrar na aventura.

Hoje a história mudou de enredo. Com internet, tablets, iPhone & cia. eletrônica, viajamos, mas a bagagem pesa mais que antigamente. Nela, além de roupas e objetos pessoais, carregamos a casa, o trabalho, as pessoas. Não tiramos folga. No aeroporto, no hotel, no metrô, no restaurante, no banheiro, ficamos plugados.

Todos teclam. Veem televisão teclando. Almoçam teclando. Assistem a filmes teclando. Conversam teclando. Frequentam festas teclando. Namoram teclando. Ufa! O aviso “desliguem os celulares” perdeu o sentido. Adultos, jovens e crianças põem os aparelhos no silencioso e… recebem e transmitem mensagens.

Em seminários corporativos, esboça-se mudança. Os chefes pedem aos subordinados que guardem os celulares. Sem tê-los à vista, a tentação diminui. Mas não acaba. Muitos saem da sala “pra dar uma olhadinha” nos recados, responder a urgências, retornar esta ou aquela chamada.

Há jeito de desligar? Pensava que não. Mas, outro dia, embarquei num cruzeiro — Emoções em alto-mar. A façanha foi surpreendente por duas razões. Uma: viajar com 3.500 fãs incondicionais de Roberto Carlos. Alguns são tão ardorosos que fazem o mesmo cruzeiro desde a primeira edição, há 8 anos. E, antes de desembarcar, compraram a de 2013.

A segunda razão: as pessoas se desconectam. Telefonar e navegar é tão caro que os descuidados, se insistirem no vício, correm o risco de desembolsar mais que o preço da viagem. Resultado: somos obrigados a preencher o vazio. Prestamos atenção no outro. Reaprendemos a buscar companhia, a conversar, a olhar nos olhos do interlocutor. Programas a bordo não faltam. Vão de piscina e academia, passam por bailes e shows do rei, chegam a missas e cassino. Basta escolher.

Dad Squarisi

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